Durante os últimos anos, pude exercer a função de árbitro de campo e de VAR em competições internacionais. Com base nessa experiência e no que estamos vendo nos campeonatos estaduais, fiz uma lista dos cinco principais problemas que poderemos ter com o árbitro de vídeo no Campeonato Brasileiro.
Problema 1: Linha de intervenção
Linha de intervenção é a expressão usada para saber o critério do árbitro de vídeo na análise dos lances. Linha de intervenção alta quer dizer que o VAR chamará o árbitro apenas em erros muito claros. Linha de intervenção baixa significa que o VAR chamará o árbitro também em lances de interpretação, aqueles que dividem opiniões.
Mas o VAR não é apenas para erros claros? Na teoria, sim. Na prática, não. A recomendação repassada ao VAR é de dar uma segunda chance ao árbitro de avaliar lances de interpretação quando o próprio árbitro não vê o lance (visão obstruída ou distante da jogada) e descreve o lance de maneira diferente do que o VAR está vendo no vídeo.
Problema 2: Inexperiência
A prática leva à excelência. Está aí o problema. Como ser excelente sem ter feito nenhum jogo com o VAR? O mesmo raciocínio vale para os operadores de vídeo na cabine. Eles são responsáveis por oferecer ao árbitro de vídeo o melhor ângulo na análise dos lances e de forma rápida. Um bom operador pode salvar o VAR. O problema é que eles também têm pouca experiência nessa função.
Em suma, dentro da cabine, temos árbitros e operadores de vídeo habilitados, mas inexperientes. Ou seja, eles conhecem as regras do jogo e o protocolo, mas na maioria dos casos não experimentaram a realidade de uma cabine em um jogo valendo três pontos.
Problema 3: Pressão dos 100% de acerto
O protocolo prevê que o objetivo não é 100% de acerto nas decisões do árbitro. Mas vai explicar isso! A realidade é bem diferente da expectativa. E isso gera uma pressão adicional sobre o VAR, uma vez que o torcedor passa a cobrar a perfeição.
Ao querer ser perfeito, o VAR passa a checar lances que não precisa, demorar na checagem porque quer ter certeza de passar a informação certa ao árbitro, pedir outros ângulos mesmo depois de ter analisado o que seria o melhor ângulo. Isso tudo torna o processo mais lento e impreciso.
Problema 4: Demora
Muitas pessoas ainda reclamam da demora na análise de lances relativamente simples. Estatisticamente, o tempo médio gasto com VAR é de apenas um minuto. Muito menos do que as médias de três minutos gastos com substituições, nove minutos com cobrança de faltas, sete minutos com arremessos laterais e quatro minutos com escanteios.
Mesmo assim, quando em um jogo o VAR leva dois minutos para anular um gol em que o atacante está bem impedido, o público não entende e critica. A inexperiência e a pressão fazem com que, pelo menos nesse início, o processo seja mais demorado que deveria.
Problema 5: Comunicação
A comunicação é uma habilidade que os árbitros e o VAR precisarão afinar. O árbitro, agora, precisará descrever ao VAR suas decisões de campo mais importantes. E o VAR precisará descrever ao arbitro o que vê no vídeo sempre que for chamá-lo para rever um lance.
A falha nessa comunicação irá levar a uma má utilização do VAR, de modo que lances que não precisariam de árbitro de vídeo serão revistos, e outros que seriam necessários para corrigir um erro passarão em branco.
Solução
Para o VAR, a solução é tempo, treinamento contínuo dentro de um ambiente que simule a realidade da cabine e experiência prática com os jogos. Somente assim o processo ficará mais preciso e claro para todos. Já para o torcedor, a solução é paciência.
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