A partir da narrativa do delírio da Dona Lourdes, criamos imagens que nos levaram à construção do espelho d’água como o lugar do acontecimento. Ele foi o disparador de possibilidades para a composição da trama e de todos os corpos em cena. Os procedimentos criativos foram acessados em fluxo contínuo e em justaposição de camadas, nas quais as partes envolvidas, ou seja, o espaço, a luz, a música e a atuação retroalimentaram-se e influenciaram-se simultânea e constantemente.
A construção das personagens se pautou em aspectos do teatro performativo. Assim, optamos por investigar estados de presença e não apenas explorar uma representação óbvia do que seria uma senhora e um jovem. Os desenhos de cenário, trilha sonora e luz foi construído no encontro e através de experimentações com objetos e instrumentos disponíveis, bem como suas possibilidades em relação com o espaço. Assim, foram criados recortes, intensidades, tons e efeitos que propuseram diretamente os desenhos das cenas. A dinamicidade desse modo de criar arte interage criação, processo e formalização. A obra, pensada na via do work in process (Renato Cohen), é inteiramente dependente do processo, sendo permeada pelo risco e, sobretudo, pelas vicissitudes do percurso.
[DO ESPETÁCULO]
O que é possível ver pela fresta da memória? OraMortem é um exercício de projeção do que é recôndito. É um momento inesperado, fragmento de sonho, fração de loucura, desarranjo do tempo, a última gota, um delírio. Trata a iminência da morte como um sintoma de vida. Dois personagens se fragmentam em reflexos e projeções para expor aquilo que não cabe, que é desajustado, que transborda das clausuras do espaço-tempo, que está fora do esquadro.
O espetáculo desarticula a noção de ficção e propõe fricções de presença entre os artistas e o público. Não esconde as engrenagens técnicas pois escancara a estrutura interna da criação, em que a iluminadora/performer e os músicos manipulam seus instrumentos luminosos e sonoros dentro da cena. Manejam múltiplas linguagens, recursos e hibridizações para tecer a dramaturgia que é engendrada no fluxo de estímulos e contaminações proposto por todas as linhas envolvidas, como a luz, a música, o espaço e os atores.
[FICHA TÉCNICA]
Concepção: in-Próprio Coletivo
Argumento: Daniela Leite
Elenco: Daniela Leite e Alexandre Cervi
Concepção e operação de luz: Karina Figueredo
Criação e execução da trilha sonora: Estela Ceregatti, Jhon Stuart e GustavoLima
Cenário: Luis Segadas e Daniela Leite
Figurino: Einstein Halking
Confecção de figurino: Loraine Costa, Roseni Peron, KimberlyCristy e Adalgiza Barros
Fotografias: Juliana Segóvia e Latitude Filmes
Agradecimentos especiais: Felipe Vicentim (in memoriam)
CLIQUE AQUI e faça parte do nosso grupo para receber as últimas do Noticia Max.
0 Comentários