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ENTRETENIMENTO Quinta-feira, 03 de Outubro de 2019, 10:19 - A | A

Quinta-feira, 03 de Outubro de 2019, 10h:19 - A | A

CINEMA

Coringa é terrivelmente realista na atual sociedade surtada

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Divulgação

 

“Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta”, escreveu décadas atrás o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984).

 

Hoje, as insanidades individuais e coletiva estão visíveis, às vezes intencionalmente superexpostas. Os transtornos mentais se tornaram uma epidemia global.

 

Com isso, a loucura do personagem Coringa no filme homônimo, dirigido por Todd Phillips, parece assustadoramente realista, ainda que represente um grau extremo de psicopatia.

 

O longa protagonizado por Joaquin Phoenix tem sido celebrado por muitos e tratado com cautela por tantos outros.

 

Seria a obra embalada por múltiplas violências um gatilho capaz de estimular insanos a produzir massacres de inocentes?

 

Recentes atentados realizados por lobos solitários – como os de El Paso e Dayton, nos Estados Unidos, em agosto – fazem a nova versão do Coringa ser ainda mais humana e também mais perigosa.

 

Na imprensa norte-americana, o filme-sensação, ganhador do principal prêmio do Festival de Veneza, tem sido associado ao termo ‘terrorismo branco’, em referência ao perfil mais comum de assassinos motivados por ódio: o caucasiano introspectivo de classe média que se sente incomodado ou ameaçado por minorias.

 

O insociável e carente Coringa seria, ainda, um ícone para os ‘incels’, abreviação de involuntary celibates (celibatários involuntários), ou seja, homens majoritariamente heterossexuais incapazes de estabelecer de maneira espontânea um relacionamento romântico ou sexual. Esse grupo desperta a atenção de autoridades e estudiosos do comportamento colérico.

 

No filme, o homem atrás da máscara de palhaço – o comediante desprezado e frustrado Arthur Fleck – é produto e, ao mesmo tempo, sintoma de uma sociedade doente. Mais grave: ele quer ser o expurgador dessa anomalia.

 

Para isso, atua como uma espécie de justiceiro. É vítima, réu, juiz e executor. Uma confusão mental e comportamental alimentada pela omissão de uma sociedade igualmente doente.

 

A maioria das pessoas prefere fingir não enxergar um indivíduo com transtorno mental a fim de não se reconhecer nele ou então evitar se sentir na obrigação moral de ajudá-lo ou ainda para se desviar da culpa pela negligência.

 

Diante da insuficiente política de Estado em relação à saúde mental da população, o drama cotado a indicações ao Oscar presta um serviço relevante ao alertar a respeito dos radicalismos aos quais estamos expostos.

 

Cada pessoa deve, assim como sugeriu Foucault, enfrentar a si mesmo. Assim haverá menor chance de se transformar em um ser fora de controle.

 

Coringa expõe as possíveis consequências calamitosas do bullying, do desamor e da sensação íntima de fracasso.

 

Trata-se de uma alegoria com tintas fortes do ‘loser’ americano: o cidadão visto como ‘perdedor’ por não ter conquistado o sucesso financeiro, a felicidade afetiva e o respeito na comunidade.

 

Independentemente de origem e cultura, há milhares de Coringas à nossa volta – sem maquiagem, porém igualmente prontos a explodir em fúria.

 

Diante desse risco iminente, a única risada possível a todos nós é a de nervoso.

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