A utilização do Pacaembu como casa do Santos é tema de discussão há anos na Vila Belmiro, mas tornou-se maior a partir de janeiro do ano passado, quando o atual presidente, José Carlos Peres, assumiu mandato com a promessa de que o estádio paulistano receberia metade das partidas do time.
O motivo é que o Pacaembu permite maior arrecadação a um clube em insistente crise financeira. O argumento não convence jogadores e comissão técnica, que sempre demonstraram preferência por atuar na Vila Belmiro – e o técnico Jorge Sampaoli tornou essa discussão pública com declarações recentes à imprensa, rebatidas por Peres.
Dados dos borderôs das partidas feitas pela equipe como mandante desde que Peres assumiu a gestão do clube mostram que o presidente tem razão. E os atletas e treinadores também. Ganha-se mais dinheiro em São Paulo. Ganha-se mais jogos em Santos.
O levantamento considera as 22 partidas realizadas no Pacaembu e as 25 feitas na Vila Belmiro pelo Santos como mandante desde janeiro do ano passado – por isso, utiliza médias para a comparação.
O Santos é melhor quando joga na Vila Belmiro, onde marca mais gols (1,72 contra 1,36 por partida) e vence mais (aproveitamento de 66,66% contra 60,6% no Pacaembu).
Antes de Sampaoli chegar, os números estavam ainda mais distantes.
Em 2018, o Santos fez 12 jogos no Pacaembu, venceu apenas três, empatou outros seis e perdeu três. O aproveitamento foi de 41,66%, a média de gols a favor, baixa: 0,83 por partida. Enquanto isso, em 21 partidas na Vila Belmiro, conquistou 60,31% dos pontos e marcou 1,67 gol por jogo.
No começo da atual temporada, com a Vila Belmiro fechada para reformas até abril, o Santos jogou mais no Pacaembu, onde teve desempenho significativamente melhor.
Com Sampaoli, tem aproveitamento de 83,33% em São Paulo, com média de dois gols por partida – só uma derrota no Pacaembu, 1 a 0 para o Novorizontino no Paulista. Na Vila, venceu os quatro jogos que fez até aqui – marcou oito gols, sofreu um.
Os números melhoraram, mas o treinador argentino foi bem claro ao defender que o Santos jogue na Vila Belmiro:
– Queremos jogar aqui, como parte do clube quero jogar onde o Santos pertence. E pertence a Santos. Em São Paulo, pode haver mais gente, mas a gente de São Paulo pode nos ver em casa (na Vila).
Dinheiro em caixa
A vontade de Sampaoli esbarra na contabilidade do Santos.
O Pacaembu rende, em média, um lucro quase quatro vezes maior ao clube do que a Vila Belmiro – isso considerando apenas bilheteria, sem calcular despesas como hospedagem e deslocamento do time até São Paulo, feito geralmente na véspera dos jogos. Quando atua em Santos, o time fica concentrado no CT Rei Pelé.
Descontados todas os custos de uma partida, sobram ao Santos R$ 184.820,42, em média, nos jogos em São Paulo – ressaltando que, no período, o time jogou de portões fechados no Pacaembu contra o River Plate-URU pela Copa Sul-Americana, partida que gerou R$ 102 mil de prejuízo.
Na Vila, o lucro é de apenas R$ 50.414,92 por jogo.
Os santistas paulistanos, porém, estão longe de lotar o estádio da cidade nesta temporada. Com capacidade para 40.199, em só uma das dez partidas feitas ali em 2019 o público pagante superou 20 mil pessoas.
Foi no clássico contra o Corinthians, na semifinal do Paulista, com 37.731 pessoas. É, também, de longe, a melhor renda do Santos no ano: R$ 1.477.585,00 (lucro de R$ 974 mil).
Como comparação: o Corinthians, neste ano, tem 12 jogos com rendas acima de R$ 1 milhão (sendo três acima dos R$ 2 milhões e uma acima de R$ 5 milhões). O Palmeiras ultrapassou essa marca 11 vezes, o São Paulo, seis.
Mas o Santos assume riscos no Pacaembu. Nesta temporada, dos dez jogos em São Paulo, cinco deram prejuízo – compensados principalmente pela renda alta do duelo contra o Corinthians. Esse jogo, sozinho, é responsável por 68% do lucro do Santos no estádio em 2019.
Na Vila Belmiro, as arrecadações são bem mais modestas – mas todas fechadas no azul neste ano.
A melhor delas, por enquanto, é de R$ 388.682,50, na ida da quarta fase da Copa do Brasil, contra o Vasco. Somada, a bilheteria dos quatro jogos feitos em Santos em 2019 (R$ 1.249.112,50) é menor que a renda da semifinal do estadual no Pacaembu.
Desde janeiro de 2018, o Santos teve mais de 10 mil pagantes na Vila Belmiro em sete dos 25 jogos realizados no local. A capacidade é de 17.923 torcedores.
O presidente José Carlos Peres não abre mão da divisão no local das partidas:
– Grandes equipes ganham em qualquer lugar. Na Vila, Pacaembu, Maracanã ou Anfield. É 50% em Santos e em São Paulo, não fugiremos disso. Se a Vila lotasse todo jogo, com 14 ou 15 mil (pagantes), não precisaria jogar em São Paulo. Preciso de receita – disse o cartola, que também cobrou melhora no público no Pacaembu.
– Torcida do Santos em São Paulo também tem que lotar. Dependemos de renda. Santos tem boa torcida em Santos e grande torcida em São Paulo. Vamos jogar em Santos e em São Paulo – completou Peres, após o clássico contra o Palmeiras, no sábado.
Em média, desde que os dois estádios passaram a dividir os jogos da equipe, a Vila Belmiro recebe 7.672 pagantes, enquanto o Pacaembu mais que dobra esse número: 16.294.
O Santos volta a atuar como mandante no domingo, quando recebe o Internacional. Essa partida será na Vila Belmiro, às 16h (de Brasília). O próximo jogo do time no Pacaembu está agendado para o dia 6 de junho, contra o Atlético-MG, o jogo de volta das oitavas da Copa do Brasil.
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