Cuiabá, 26 de Abril de 2024
Notícia Max
26 de Abril de 2024

AGRONEGÓCIO Terça-feira, 10 de Outubro de 2017, 08:18 - A | A

Terça-feira, 10 de Outubro de 2017, 08h:18 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Francisco Medeiros: “O principal problema enfrentado pelos piscicultores é a questão do licenciamento ambiental”

Redação

Beto Terra

 

De acordo com a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), Mato Grosso ocupa o quarto lugar no ranking dos maiores produtores de peixe do Brasil, sendo que o Estado já figurou como o primeiro no ranking. De acordo com o presidente executivo da Peixe BR, Francisco Medeiros, as dificuldades enfrentadas pelos piscicultores mato-grossenses vem impedindo a expansão dos negócios, principalmente na questão do licenciamento ambiental, que impede também o acesso ao crédito.

Em entrevista ao jornal Notícia Max, Francisco Medeiros fala ainda sobre as principais espécies produzidas no Estado, explica que a criação da tilápia agora está autorizada com a regulamentação por parte do Estado e as vantagens da espécie frente aos chamados peixes nativos.

Quanto à estrutura, o presidente da Peixe BR frisa que falta ao Estado apenas a instalação de novos frigoríficos, citando que Mato Grosso teria condições de suportar pelo menos mais seis plantas frigoríficas devido à sua produção de pescado.

Notícia Max - MT é o quarto maior produtor de peixes do país, mas o que falta para aumentar ainda mais o setor no Estado?

Francisco Medeiros – O principal problema é a questão do licenciamento ambiental. Só agora, recentemente, que tivemos uma regularização do decreto, mas mesmo assim o Estado é muito moroso na liberação, uma outorga demora mais de um ano, o licenciamento dois, três anos, e isso acaba não sendo atrativo para o empresário.

E sem licenciamento ambiental o empresário não tem como acessar crédito, e sem crédito dos bancos oficiais, não tem como fazer investimento. O que foi diferente de Rondônia, onde o governo licenciou todos os piscicultores, eles foram junto aos bancos, captaram dinheiro e aumentaram sua produção.

Então como nos últimos dois anos o custo de dinheiro está muito caro, as pessoas deixaram de fazer investimentos na atividade porque em função da situação econômica, a pessoa guarda uma reserva de dinheiro, ao invés de colocar tudo na atividade.

Notícia Max – A estrutura hoje para a produção do pescado satisfaz os produtores?

Francisco Medeiros – Quando falamos de estrutura, precisamos de três estruturas. Uma é produção de forma jovem, que são os alevinos, e isso nós temos uma boa estrutura. A segunda são as fábricas de ração, e temos nove fábricas de ração bem estruturado, e o terceiro são os frigoríficos, e nesse setor somos deficitários, temos seis plantas com inspeção federal, mas teria espaço para mais umas seis plantas.

Notícia Max - No Estado sobressai a produção da tabatinga e tambacu?

Francisco Medeiros – Principalmente tabatinga. Aqui no Estado temos também uma produção expressiva de pintado, principalmente na região de Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, e aqui um pouco também na Baixada Cuiabana.

Então esses são os dois principais peixes que produzimos no Estado. Em menor quantidade um pouco de matrinchã, mas é muito pouco.

Notícia Max – Em outros Estados a tilápia tem lugar de destaque. Por que em Mato Grosso os produtores ainda não se voltaram para a produção desse pescado?

Francisco Medeiros – A tilápia não estava sendo produzida aqui por conta da questão do licenciamento ambiental. Recentemente tivemos a aprovação de um decreto que regulamenta a criação de tilápia no Estado. Então provavelmente a partir de agora seremos um dos grandes produtores de tilápia. Era uma questão ambiental, e não uma questão de definição de negócio.

Notícia Max – Há vantagens na criação da tilápia, em relação às outras espécies criadas no Estado?

Francisco Medeiros – Muitas vantagens. Vou dar um exemplo: A tabatinga demora um ano para colocá-la em idade comercial, e no caso de uma tilápia, é de cinco a seis meses. Então o produtor consegue duas safras por ano quando se trabalha com a tilápia, em contrapartida do peixe nativo, seja o tabatinga ou o pintado, que é uma safra apenas. Ou seja, ele consegue produzir o dobro na mesma área por ano.

Notícia Max – A piscicultura já pertenceu já foi ministério, já pertenceu ao MAPA, e agora deve pertencer ao Ministério da Indústria e Comércio. Isso não prejudica o setor?

Francisco Medeiros – Só prejudica. Isso não tem vantagem nenhuma. Em 2015 estávamos no Ministério da Pesca, em 2016 no Ministério da Agricultura, e agora no Congresso Nacional votaram para que se crie uma nova secretaria vinculada à Presidência da República denominada Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, mas ainda precisa da chancela dos senadores e da aprovação do presidente.

Ou seja, essa mudança ela só atrapalha, porque ocorre uma paralisia de todos os processos relacionados à atividade, e não tem como fazer política pública dessa forma.

Notícia Max - Como o senhor vê o futuro da piscicultura brasileira?

Francisco Medeiros – Na realidade, estamos em uma fase muito inicial, muito incipiente, ou seja, é uma atividade econômica importante, movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano, somente o PIB da piscicultura, mas isso é muito pouco relacionado com o que nós podemos produzir.

Hoje temos condições de multiplicar por 10 o que produzimos desde que haja legislações ambientais estaduais, que facilitem o licenciamento, e o Governo Federal estabeleça um determinado local e possa fazer a liberação dos processos para a produção de peixe.

Notícia Max – Hoje já há a aceitação pelo peixe de tanque, já ganhou o mercado local.

Francisco Medeiros – Realmente hoje a população só come peixe de tanque. Atualmente em Cuiabá de cada 10 quilos de peixe consumido, 8,5 quilos é de tanque, somente 1,5 quilo que é  proveniente da pesca.

Na realidade, a raridade hoje é o peixe da pesca no dia a dia. Se você for em qualquer supermercado de Cuiabá, não encontra nenhum peixe oriundo da pesca. E sim 100% é oriundo da piscicultura.

 

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