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ECONOMIA Sexta-feira, 07 de Março de 2025, 15:21 - A | A

Sexta-feira, 07 de Março de 2025, 15h:21 - A | A

dizem economistas

Medidas do governo para baratear alimentos devem ter pouco efeito

G1

As medidas para tentar reduzir os preços dos alimentos, anunciadas na última quinta-feira (6) pelo governo federal, devem ter pouco impacto na inflação do Brasil, indicam economistas consultados pelo g1.

A principal proposta do governo é a de aumentar a competitividade dos produtos vendidos no Brasil por meio da suspensão do imposto de importação. Isso porque, sem a tarifa, a ideia é que os importados cheguem mais baratos ao país e pressionem os produtores locais a reduzir seus preços, como uma forma de manter seus clientes.

Para especialistas, no entanto, as medidas devem ter um impacto pouco significativo na inflação, principalmente para a população de baixa renda. Entre os motivos para isso, estão:

  • o fato de que muitos dos alimentos acompanham os preços internacionais;
  • os efeitos das quebras de safra em outros países nos preços dos produtos;
  • a baixa relevância de alguns dos itens listados pelo governo na composição do IPCA, índice considerado a inflação oficial do país; e
  • a baixa concentração dos produtos importados no mercado interno, o que limita o efeito das tarifas reduzidas.

Maioria dos produtos com tarifa zero não são importados

Poucos itens que tiveram a alíquota zerada pelo governo federal têm importância relevante para o IPCA, destaca o economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). É o caso da carne, do café, do açúcar e das massas (macarrão).

"A carne é o mais importante. Pesa mais no IPCA. Quase 3% da renda das famílias é comprometida com a compra do produto", diz.

Já os demais itens citados na lista do governo não devem ter grande impacto no índice de preços, alerta o economista. Ele cita como exemplo o azeite — que, apesar do preço elevado, não é um produto da cesta básica — e a sardinha, que não é contabilizada dentro do IPCA.

"O óleo de girassol também não é tão importante assim. O óleo de soja é muito mais utilizado", diz.

Veja quais são os itens com tarifa zero, conforme o anúncio de Alckmin nesta quinta:

???? Carne
Tarifa de importação atual: 10,8%
Nova tarifa: 0%

☕ Café
Tarifa de importação atual: 9%
Nova tarifa: 0%

???? Açúcar
Tarifa de importação atual: 14%
Nova tarifa: 0%

???? Milho
Tarifa de importação atual: 7,2%
Nova tarifa: 0%

???? Azeite
Tarifa de importação atual: 9%
Nova tarifa: 0%

???? Óleo de girassol
Tarifa de importação atual: até 9%
Nova tarifa: 0%

???? Sardinha
Tarifa de importação atual: 32%
Nova tarifa: 0%

???? Biscoitos
Tarifa de importação atual:
 16,2%
Nova tarifa: 0%

???? Massas alimentícias (macarrão)
Tarifa de importação atual:
 14,4%
Nova tarifa: 0%

No comércio internacional, o Brasil é um grande fornecedor da maioria dos itens listados pelo governo para o resto do mundo, explica Felippe Serigati, economista e pesquisador do FGV Agro.

"Isso vale para o café, para o açúcar, para a carne bovina, para a carne de frango. Então, você vai buscar esse produto de onde, se o mundo tá vindo aqui no Brasil buscar esses produtos?", pontua.

Serigati afirma que, mesmo que o país consiga encontrar um fornecedor desses produtos com a medida de zerar as tarifas de importação, o preço da maioria dos alimentos listados é ditado pelo mercado internacional. Ou seja, se um item está caro, o preço está alto no mundo inteiro.

o economista ainda destaca que enxerga o anúncio do governo como uma medida política para tentar conter a queda na popularidade de Lula — causada, em grande parte, pela inflação dos alimentos.

"Mesmo que as medidas anunciadas não tenham, em termos econômicos, o resultado esperado [de reduzir o preço dos alimentos], pelo menos tá tentando criar a sensação de que o governo tá fazendo alguma coisa", diz o pesquisador.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, também acredita que o pacote anunciado pelo governo não deverá influenciar significativamente a inflação.

"Em geral não importam muito todos esses produtos, tirando azeite e óleo", diz. A especialista lembra também que há um problema de oferta no mundo entre os itens que impactariam mais a inflação — o caso da carne.

Conforme mostrou o g1o preço da carne disparou 20,8% em 2024, na maior alta em 5 anos. Segundo especialistas, quatro fatores ajudam a explicar a disparada de preços:

  1. Ciclo pecuário: após dois anos de muitos abates, a oferta de bois vai começar a diminuir no campo;
  2. Clima: seca e queimadas prejudicaram a formação de pastos, principal alimento do boi;
  3. Exportações: Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e vem batendo recordes de vendas;
  4. Renda: queda do desemprego e valorização do salário mínimo estimularam compras de carnes.

Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, outro ponto que explica o pouco efeito das medidas do governo para a população é o fato de que o impacto deve ser sentido mais por pessoas mais ricas do que pela base da pirâmide social.

"Os produtos que são importados, principalmente quando nós olhamos para café e carnes, que são produtos finais, eles têm um preço mais elevado e são consumidos majoritariamente pelo topo da pirâmide econômica e social", explica Argenta.

"Portanto, eles terão um impacto sobre a redução de preços que será sentido sobre aquela fração da população que não é tão afetada assim pela oscilação dos preços", completa.

A economista também ressalta que o país começa, agora, a entrar em um novo período do ciclo das safras. Para Argentina, esse cenário deve reduzir a inflação dos alimentos e "não deve ser confundida com os efeitos da medida anunciada pelo governo".

Impacto fiscal e na produção brasileira

Para além do fraco impacto nos preços previsto pelo mercado, as medidas também são vistas com preocupação, uma vez que podem gerar divergências de preços e trazer prejuízos aos país no médio e no longo prazo. É o que afirma o analista financeiro Vitor Miziara.

"O problema para a alta dos preços dos alimentos é muito mais sobre quebras de safras do que taxas altas para a importação", explica o especialista.

Nesse sentido, a leitura é que a isenção do imposto de importação pode criar um preço menor para os itens listados pelo governo, mas de "forma artificial" — já que o preço do alimento, em si, é determinado principalmente pela oferta e demanda no mercado.

Isso, se mantido por muito tempo, pode favorecer a importação em detrimento do produtor local, que hoje é o grande responsável por abastecer o mercado interno e as exportações do país, diz Miziara.

Além disso, se mesmo com as medidas anunciadas pelo governo o preço dos produtos importados subir — causado por uma alta no preço das commodities ou na cotação do dólar, por exemplo —, de nada vai valer a isenção do imposto, já que a inflação subiria da mesma forma, afirma o analista.

Por fim, os especialistas ainda destacam outro risco: a questão fiscal. Com as taxas zeradas, o governo também está abrindo mão de uma parte de sua arrecadação.

A decisão vem em um momento em que o mercado continua duvidando da capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. E se o mercado entende que o governo está sendo irresponsável com o quadro fiscal, os investidores retiram seus recursos do Brasil — o que encarece o dólar.

Por sua vez, dólar mais caro também eleva os preços dos produtos importados.

"Zerar o imposto diminui a arrecadação do governo. Para alimentos, principalmente os importados, esse é um risco muito grande, dado que, caso haja um aumento dos custos lá fora ou o câmbio piore [com o real se desvalorizando], o aumento de preços pode acontecer do mesmo jeito, com ou sem imposto de importação", afirma Miziara.

Queda do dólar e redução do ICMS ajudariam

Para André Braz, do FGV Ibre, não há solução fácil para o problema do alto preço dos alimentos. Ele ressalta, no entanto, que medidas fiscais mais efetivas por parte do governo (ou seja, uma maior sinalização de equilíbrio de gastos) poderia ajudar a conter o dólar, diminuindo os custos por aqui.

"O câmbio penaliza muito o preço dos alimentos. Primeiro, penaliza quando a gente importa, porque uma moeda depreciada faz o produto importado ficar mais caro. Segundo, porque as nossas exportações crescem", afirma.

O especialista lembra que aumentar a exportação melhora a balança comercial, o que é bom para o país, mas pondera que o movimento significa um desafio para a inflação, já que um real mais barato faz com que os produtos brasileiros estejam sempre em "promoção".

"Todo mundo quer comprar do Brasil. Isso desabastece o mercado brasileiro e força aumento de preços", diz.

No ano passado, por exemplo, houve uma disparada nos preços do dólar, o que acabou pressionando a inflação de alimentos por aqui. Apesar do cenário internacional incerto, grande parte da valorização da moeda norte-americana em detrimento ao real ocorreu por fatores domésticos, em meio a receios do mercado com o crescimento da dívida do país.

Isso gerou efeitos negativos no câmbio e fez o dólar ultrapassar, pela primeira vez na história, a marca dos R$ 6.

Além da questão do dólar, para Andréa Angelo, da Warren, os preços dos alimentos poderiam ter uma queda, de fato, caso os estados zerassem o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

"Estamos mesmo precisando de uma força para uma inflação mais baixa dos alimentos, quem sabe até caindo de preço. Mas acho que essas medidas não vão alcançar com a magnitude desejada a população que está sofrendo mais com os aumentos recentes", conclui Braz.

Outras medidas

Outras medidas anunciados pelo governo foram:

???? Aceleração do SISBI-POA

O governo pretende ampliar o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA), que permite que produtos como leite, mel, ovos e carnes inspecionados em municípios e estados possam ser vendidos em todo o país.

➡️ A meta é passar de 1.550 registros para 3.000 no sistema, o que pode trazer mais competitividade e redução de custos no setor de proteína animal.

Com a mudança no SISBI, os produtores de leite líquido, mel e ovos cadastrados nos sistemas municipais de inspeção poderão ser vendidos para todo o Brasil. Há possibilidade de que essa flexibilização também seja feita para outros produtos.

"Qual o efeito? [...] Por um ano, o sistema SIM terá equivalência ao sistema SISBI, para que a gente continue também ampliando isso e dando competitividade e oportunidade para os produtos da agricultura familiar brasileira", afirmou o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária.

???? Fortalecimento dos estoques reguladores da Conab

O governo quer reforçar os estoques públicos de alimentos básicos para ajudar a segurar a alta de preços em momentos críticos, garantindo oferta e estabilidade.

???? Plano Safra com foco na cesta básica

Os financiamentos do Plano Safra devem priorizar a produção de itens que compõem a cesta básica, com mais estímulo para produtores rurais que abastecem o mercado interno.

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