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BRASIL Segunda-feira, 24 de Maio de 2021, 14:25 - A | A

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VACINA

Sem resposta, Pfizer alertou que venderia vacina a outros países

O último alerta, conforme o roteiro das mensagens obtido pelo blog, foi no dia 24 de novembro de 2020

Redação

As mensagens enviadas pela Pfizer ao governo brasileiro, entregues à CPI da Covid, mostram que a farmacêutica fez alerta de que as doses reservadas ao Brasil seriam distribuídas a outros países se não houvesse resposta às propostas.

O último alerta, conforme o roteiro das mensagens obtido pelo blog, foi no dia 24 de novembro de 2020, quando a Pfizer enviou e-mail com os termos atualizados do acordo, lembrando que o prazo de validade era até 7 de dezembro. E que, após essa data, as doses reservadas ao Brasil poderiam ser distribuídas a outros países.

O roteiro traz ainda a informação de que, quando a Pfizer enviou a carta ao presidente Jair Bolsonaro, em 12 de setembro de 2020, o mesmo documento foi encaminhado a diversos secretários do Ministério da Saúde. Na carta, o laboratório cobrava uma posição às propostas enviadas ao longo do mês de agosto, mas que até então não havia recebido uma resposta.

O material enviado à CPI revela ainda que o primeiro contato da Pfizer com o governo brasileiro foi no dia 17 de março do ano passado, quando foi enviado e-mail ao presidente Jair Bolsonaro informando que a empresa estava buscando soluções médicas para combate à Covid-19.

Na avaliação de integrantes da CPI da Covid, fica comprovado que o governo passou a dar respostas às propostas do laboratório apenas depois da entrada nas negociações do ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten, em novembro do ano passado. Até então, a empresa havia também encaminhado mensagens para o presidente da República, sem obter resposta.

Ou seja, somente depois de uma pressão interna é que as propostas começaram a ser tratadas com mais celeridade.

"Houve um lobby dentro do próprio governo para as coisas andarem. O que se passou nisso, precisamos investigar", disse ao blog um integrante da CPI da Covid.

Cronologia das mensagens
Veja abaixo o roteiro das mensagens trocadas pela Pfizer com o governo brasileiro:

17/03/2020 – Pfizer envia e-mail ao presidente da República, Jair Bolsonaro, informando que a empresa está buscando soluções médicas para combate à Covid-19.

20/5/2020 – Pfizer envia e-mail ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pedindo agenda com ele para tratar de avanços da Pfizer no combate à Covid-19.

20/5/2020 – Pfizer envia e-mail ao vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, solicitando reunião entre ele e o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, para tratar de avanços da Pfizer no combate à Covid-19.

21/5/2020 – Secretaria-executiva do Ministério da Saúde responde e-mail da Pfizer, agendando reunião para o dia 28/05/2020, com a presença de Élcio Franco, secretário-executivo adjunto.

25/5/2020 – Pfizer responde ao Ministério da Saúde com os nomes dos participantes da reunião agendada para o dia 28, que inclui o presidente Carlos Murillo.

2/6/2020 – Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde envia e-mail à Pfizer confirmando videoconferência com a secretária Vania Cristina, no dia 05/06/2020, para tratar de vacinas.

4/6/2020 – E-mail do gabinete da SCTIE para representantes da Pfizer e Fiocruz a fim de enviar link do zoom para reunião do dia seguinte.

24/06/2020 – E-mail da Pfizer ao ministro da Saúde solicitando audiência para tratar do desenvolvimento da vacina.

25/06/2020 – Camile Sachetti, diretora DECIT/MS, envia e-mail à Pfizer solicitando informações sobre o desenvolvimento da vacina, que é respondido pela empresa no mesmo dia.

2/7/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde reiterando o pedido de audiência, com a presença de seu presidente no Brasil e com a possibilidade de contar com a presença de líderes globais da companhia, para tratar da vacina.

6/7/2020 – E-mail da Pfizer agradecendo a audiência realizada naquele dia e fornecendo alguns dados solicitados sobre o desenvolvimento da vacina.

7/7/2020 – Pfizer envia novo e-mail ao Ministério da Saúde lembrando que na audiência do dia anterior ficaram de marcar reunião com área técnica (Fiocruz, PNI, Ministério) e a área internacional de Pesquisa Clínica, Manufatura e Líderes Sênior da Organização. Cobra sugestão de data. Ministério da Saúde responde sugerindo 14/7 ou 15/7.

8/7/2020 – Pfizer envia e-mail com sugestão de Termo de Confidencialidade entre Ministério da Saúde e empresa.

10/07/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde confirmando reunião para 15/07.

16/07/2020 – Carlos Murillo, presidente da Pfizer, envia e-mail ao ministro da Saúde pedindo reunião urgente para tratar dos detalhes da proposta.

21/07/2020 – Ministério da Saúde envia e-mail à Pfizer com o ofício – "Informação: Apresenta a Empresa Pfizer Brasil e suas ações no combate à Covid-19".

21/07/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde com ofício confirmando a participação do Brasil no estudo clínico de estágio final da vacina. Informa que o protocolo clínico do estudo acaba de ser aprovado pela Anvisa. Reitera o pedido de agendamento para apresentar a proposta da Pfizer para fornecimento de doses de vacina.

22/07/2020 – Pfizer envia e-mail ao sr. Paulo César Ferreira Júnior (chefia de gabinete do ministro) pedindo apoio para um contato do presidente da Pfizer com o ministro Pazuello. Murillo gostaria de conversar com o ministro sobre a proposta encaminhada na semana anterior para um possível fornecimento de vacina.

24/07/2020 – Ministério da Saúde responde e-mail agendando reunião virtual para o dia 29/07 às 15h.

29/07/2020 – Ministério da Saúde envia link da reunião.

31/07/2020 – Pfizer pede audiência urgente com o Ministério da Saúde.

4/8/2020 – Ministério confirma reunião para o dia 6 de agosto.

14/08/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde com proposta formal para fornecer 70 milhões de doses de vacina ao Brasil (o e-mail deixa claro que em reuniões anteriores a oferta era de 30 milhões de doses). Proposta é válida até 29 de agosto.

17/08/2020 – Pfizer envia e-mail a técnicos do Ministério da Saúde com link para acessar documentos com informações sobre a vacina e a proposta. Envia um outro e-mail ao Ministério da Economia informando da proposta que havia sido feita.

18/8/2020 – Pfizer envia e-mail ao MS informando que consegue antecipar um adicional de 1 milhão de doses para ser entregue ainda em 2020, após autorização da Anvisa. Reforça que a validade da proposta era até 29 de agosto e pede urgência na resposta, pois há outros países interessados.

19/8/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde questionando se receberam a proposta atualizada enviada no dia anterior em nome do presidente da Pfizer no Brasil.

21/8/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde reforçando a importância de uma resposta formal à sua proposta o quanto antes, dada a alta procura por vacinas por outros países.

25/8/2020 – Pfizer envia e-mail ao MS, no qual menciona que houve um contato telefônico entre representante do ministério e presidente da Pfizer no Brasil. Solicita um novo contato telefônico para alinhar as expectativas sobre as doses da vacina.

26/8/2020 – Pfizer envia e-mail ao MS contendo proposta com revisão do cronograma, antecipando entrega de doses da vacina.

2/9/2020 – Pfizer envia e-mail com ofício ao Ministério da Saúde informando o andamento do estudo da Pfizer no país, bem como novos dados sobre a vacina.

12/9/2020 – Presidente mundial da Pfizer envia e-mail com carta ao presidente Jair Bolsonaro, com cópia para o vice Hamilton Mourão, Eduardo Pazuello, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster, e diversos secretários do Ministério da Saúde.

15/9/2020 – Pfizer reenvia a diversos secretários do Ministério da Saúde a carta do seu presidente mundial que fora enviada a Bolsonaro no dia 12 e afirma que estão à disposição para quaisquer necessidades.

14/10/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde contendo arquivo com dados sobre a vacina. Destaca que a vacina pode ser armazenada nos pontos de vacinação numa temperatura entre 2 e 8°C por um período de até 5 dias.

21/10/2020 – Pfizer envia e-mail a Élcio Franco, secretário executivo do Ministério da Saúde, com ofício em nome do presidente da Pfizer, Carlos Murillo, com pedido de audiência urgente para atualização sobre novos dados e informações sobre a vacina.

27/10/2020 – Ocorre reunião entre Pfizer e representantes do Ministério da Saúde.

28/10/2020 – Pfizer envia e-mail ao Ministério da Saúde com informações sobre a vacina. Destaca que pode ser conservada em ultra freezer por até 6 meses, na caixa específica para entrega nos pontos de vacinação por até 15 dias (com troca de gelo seco), e por até 5 dias em refrigeração de 2 a 8°C.

Afirma que encaminhará no dia seguinte os pareceres jurídicos que confirmam que a proposta enviada pela Pfizer está prevista no direito público e pode ser assinada pelo governo, de acordo com a lei 8.666, bem como as informações sobre compras/contratos internacionais realizados entre a Pfizer e o Ministério da Saúde para aquisição da vacina ACWY e medicamento Vyndaqel.

Solicita confirmação urgente do número de doses a ser considerada em uma nova proposta, para que possam enviar a proposta de quantitativo atualizada. Reforça que a celeridade é essencial para que possam garantir doses para o Brasil.

10/11/2020 – Pfizer tem reunião telefônica com o presidente Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes e o então secretário de Comunicação Social, Fábio Wajngarten. Foi reapresentada a proposta de 70 milhões de doses, com um mínimo a ser adquirido no primeiro semestre e o restante no segundo semestre. Empresa reforça que contrato será efetivado somente após aval da Anvisa, “sem qualquer risco/prejuízo financeiro ao país caso nossa vacina não receba o registro”.

13/11/2020 – Ministério da Saúde confirma reunião com a Pfizer para 17 de novembro.

24/11/2020 – Pfizer envia termos atualizados do acordo. Proposta é válida até 7 de dezembro. Após esta data, doses reservadas ao Brasil serão distribuídas a outros países.

2 e 3/12/2020 – Pfizer tenta contato telefônico e por e-mail com Ministério da Saúde, relata ter deixado inúmeras mensagens, mas não obteve resposta.

4/12/2020 – Ministério da Saúde envia uma contraproposta à Pfizer.

6 e 9/12/2020 – Pfizer pede reunião para discutir contraproposta e mostra que memorando de entendimento depende de medida provisória do governo, ainda a ser editada.

10/12/2020 – Ministério da Saúde fecha memorando de entendimento com a Pfizer.

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