A Alemanha fechará todos os três consulados iranianos no país, mas permitirá que a embaixada permaneça aberta, em resposta à execução de um cidadão iraniano-alemão no Irã, informou o Ministério das Relações Exteriores nesta quinta-feira (31). Os consulados iranianos ficam em Frankfurt, Hamburgo e Munique.
"Nossas relações diplomáticas já estão abaixo do ponto mais baixo", disse a Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, em Nova York.
A Alemanha já havia chamado de volta seu embaixador no Irã devido à execução de Jamshid Sharmahd e convocado o encarregado de negócios iraniano para expressar o protesto de Berlim.
O fechamento dos consulados do Irã, uma medida diplomática que a Alemanha raramente usa, sinaliza uma grande deterioração das relações diplomáticas entre os dois países, que já estavam ruins. No ano passado, Berlim ordenou que a Rússia fechasse quatro dos cinco consulados que então mantinha na Alemanha após Moscou impor um limite para o número de funcionários na embaixada alemã e em outras representações na Rússia.
Baerbock condenou o Irã por fazer política com reféns e acusou o país de tentar usar o apoio alemão a Israel no conflito crescente no Oriente Médio para justificar a execução de Sharmahd.
"Outros cidadãos alemães também estão sendo mantidos de maneira injusta. Estamos profundamente comprometidos com eles e continuamos trabalhando incansavelmente pela sua libertação", afirmou a ministra.
A ministra também apelou à União Europeia para que adicione a Guarda Revolucionária do Irã à sua lista de grupos terroristas.
Execução
Jamshid Sharmahd, de 69 anos, foi executado no Irã na segunda-feira (28) sob acusações de terrorismo, informou o Judiciário iraniano. A execução ocorreu após um julgamento em 2023 que a Alemanha, os EUA e grupos internacionais de direitos humanos consideraram uma farsa.
Sharmahd foi um dos vários dissidentes iranianos no exterior nos últimos anos que foram enganados ou sequestrados de volta ao Irã, enquanto Teerã começou a reagir após o colapso do acordo nuclear de 2015 com potências mundiais, incluindo a Alemanha.
O Irã acusou Sharmahd, que vivia em Glendora, Califórnia, de planejar um ataque a uma mesquita em 2008 que matou 14 pessoas — incluindo cinco mulheres e uma criança — e feriu mais de 200, além de planejar outros ataques por meio do pouco conhecido Kingdom Assembly of Iran e sua ala militante Tondar.
O Irã também acusou Sharmahd de "divulgar informações confidenciais" sobre locais de mísseis da Guarda Revolucionária durante um programa de televisão em 2017.
Sua família contestou as acusações e trabalhou durante anos para garantir sua libertação.
O Irã reagiu aos protestos da Alemanha. Araghchi escreveu na rede social X na terça-feira que "um passaporte alemão não concede imunidade a ninguém, muito menos a um criminoso terrorista".
Ele acusou Baerbock de “manipulação” e escreveu que “seu governo é cúmplice do genocídio israelense em curso”. A Alemanha é uma aliada firme de Israel e tem criticado severamente os ataques iranianos contra Israel enquanto aumentam as tensões devido aos conflitos em Gaza e no Líbano.
Na terça-feira, o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, afirmou que “a execução de um cidadão europeu está prejudicando seriamente as relações entre o Irã e a União Europeia”.
"Diante desse desenvolvimento alarmante, a União Europeia agora considerará medidas direcionadas e significativas", disse ele em comunicado, sem detalhar.
Sharmahd estava em Dubai em 2020, tentando viajar para a Índia para fechar um negócio para sua empresa de software. Ele esperava conseguir um voo de conexão apesar da pandemia de coronavírus, que estava prejudicando as viagens globais.
A família de Sharmahd recebeu sua última mensagem em 28 de julho de 2020. Não está claro como o sequestro aconteceu, mas dados de rastreamento mostraram que o celular de Sharmahd viajou de Dubai para a cidade de Al Ain em 29 de julho, cruzando a fronteira com Omã. Em 30 de julho, o rastreamento mostrou que o telefone chegou à cidade portuária de Sohar, em Omã, onde o sinal parou.
Dois dias depois, o Irã anunciou que havia capturado Sharmahd em uma "operação complexa". O Ministério da Inteligência publicou uma fotografia dele vendado.
A Alemanha expulsou dois diplomatas iranianos no ano passado devido à sentença de morte de Sharmahd.
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