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INTERNACIONAL Quinta-feira, 23 de Novembro de 2017, 11:15 - A | A

Quinta-feira, 23 de Novembro de 2017, 11h:15 - A | A

APÓS 7 ANOS

Mineiro soterrado no Chile fala sobre submarino argentino; "É uma situação pior"

Estadão

Reprodução

MIN

 

Um grupo, há pouco mais de sete anos, se livrava de um confinamento embaixo de uma colina. Outro, agora, vive o drama de estar submerso no fundo do mar. O caso do submarino ARA San Juan, da Argentina, considerado desaparecido desde o último dia 15, remete ao famoso soterramento de 33 mineiros em uma mina chilena, em 2010, no sentido da angústia, da sensação de aprisionamento e da incerteza em relação ao desfecho da situação.

 

Um dos líderes dos mineradores soterrados, Mário Sepúlveda, de 47 anos, declarou ao R7 que acompanha com atenção o caso do submarino e, em cada notícia que ouve, lhe vêm à mente a angústia que passou enquanto esteve preso na escuridão opressiva do ventre da terra. De onde ecoava apenas a esperança.

Seu jeito de falar é um sinal de que o trauma não foi suficiente para ofuscar a espontaneidade e a voz expansiva, a começar pela maneira de atender o celular, com um alô longo, como se estivesse falando mesmo de dentro de um espaço fechado, para o mundo exterior:

 

— Sim, claro que acompanho o que acontece com o submarino. Vêm muitas lembranças, angústia, sentimento de pena e tudo isso.

 

Naquela ocasião, o mundo se uniu em torno do que acontecia no Atacama, onde ficava a mina. Um batalhão de fotógrafos, cinegrafistas e repórteres permaneceu de plantão sob um sol desértico abrasador, durante 70 dias, tempo que durou o minucioso resgate, no qual todos saíram vivos.

 

O complicado cenário dos mineiros, porém, tem aspectos diferentes em relação ao submarino perdido, que saiu da Base Naval de Ushuaia com destino a Mar del Plata, deixando, posteriormente, de dar qualquer sinal. E que, segundo os cálculos, só teria mais sete dias de oxigênio, caso não suba à superfície.

 

Sepúlveda, apontou alguns fatores que, na opinião dele, tornam a situação dos argentinos ainda mais grave do que aquela que ele viveu.

 

— Nós estávamos confinados em uma mina. Havia espaço para andarmos, estávamos também em menor número, em 33 pessoas. O submarino possui um espaço menor do que o nosso, mais enclausurado, com 44 pessoas, com maiores dificuldades em relação ao oxigênio. Estar assim no fundo do mar não é como ficar embaixo de uma colina. É muito pior.

 

Outro ponto que dificulta a situação do submarino é que, diferentemente do que ocorreu com os mineiros, ninguém sabe onde a embarcação se encontra. Sepúlveda lembra que somente um tempo depois da saída do submarino é que ele foi considerado desaparecido.

 

— Perdeu-se cerca de três dias de procura até se perceber que havia algo errado. Nesta situação há culpados e é necessário saber quem são. Independentemente disso, o importante é que todos mantenham a fé e orem porque essa corrente positiva ajuda nessas situações.

 

Enquanto os mineiros permaneciam enclausurados, Sepúlveda, em tom eloquente, lembra com orgulho da força que conseguiu tirar de dentro de si para superar o drama. Ele era um dos mais bem-humorados do grupo e ajudou a manter a motivação dos companheiros em alta.

 

— Sempre mantivemos a esperança, com muita oração, união, muito trabalho em equipe, muitos bons líderes, muito humor. O bom humor isso foi fundamental. Brincávamos com o único boliviano entre os chilenos, outros contavam piada, outros dançavam. Foi algo sincero que ajudou a manter nossa moral em alta.

 

Para ele, nessas ocasiões, os confinados percebem a preocupação do mundo exterior e sentem uma energia especial. Tal situação serve também como um estímulo a mais para acreditar em um final feliz. Os próprios mineiros formaram um grupo em que enviam mensagens de solidadiedade para os familiares e para os tripulantes do ARA San Juan.

 

— Sempre soubemos que estávamos muito unidos com o exterior, isso foi uma motivação, a certeza de que nosso drama ultrapassou fronteiras. Esse acontecimento com os irmãos argentinos também exige muita união, uma cadeia de orações, para rezarmos por nossos irmãos.

 

Sepúlveda deixou a profissão de mineiro para se tornar palestrante, em eventos motivacionais. Segundo a esposa dele, Taty, de 47 anos, ele mantém contato com alguns dos mineiros, como Carlos Barrios. Mesmo com o desfecho positivo, a cada dia ela se lembra da angústia que viveu naqueles dias que pareciam não ter fim. E afirma que consegue se colocar no lugar dos familiares dos tripulantes do submarino.

 

— Coloco-me no lugar dessas pessoas e sei como eles estão sentindo angústia, apreensão, não se sabe o que está acontecendo lá dentro. É uma angústia terrível, como familiares nos sentimos assim. E agora peço que os que estão passando por isso tenham esperança, fé em Deus e que acreditem que amanhã tudo ficará bem. Espero do fundo do coração que seja isso que aconteça.

 

Ela também vivenciou o desespero por obter informações das autoridades. E dizendo ter recebido apoio de associações internacionais e depois do governo chileno, vê com uma dose de ponderação as atuais queixas vindas dos familiares. Para ela, totalmente compreensíveis.

 

— Nós, como famliares, passamos por isso e é uma situaçao desesperante, angustiante. Querem perguntar, buscam respostas, mas elas não podem ser dadas, porque tampouco se sabe o que está ocorrendo.

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