Cuiabá, 23 de Julho de 2024
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23 de Julho de 2024

OPINIÃO Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2023, 07:13 - A | A

Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2023, 07h:13 - A | A

LUIZ CESAR DE MORAES

Do falar compulsivo

Só empresto meus ouvidos a estes faladores compulsivos se eu for pego desprevenido

LUIZ CESAR DE MORAES

É possível que você já tenha cruzado com alguém que fale sem parar, sem permitir ao interlocutor qualquer chance de participar da conversa, a não ser se dispor a ouvir, depois ouvir, e continuar ouvindo, e em seguida dando mais ouvidos, ad nauseam.

Não resta dúvida de que esse grupo de pessoas tem crescido de forma assustadora, levando muitos a se precaverem quando se veem na iminência de ter que dar atenção a alguém que demonstra tal perfil, isto é, gente que adora entoar uma cantilena monótona e enfadonha.

Não é exagero nomear os integrantes desse rol como faladores compulsivos, porque, na verdade, é isso mesmo que eles são. Seja qual for o assunto, tais figuras sempre falam primeiro, e nunca ou, muito raramente, deixam você falar.

Devo confessar, porém, que só empresto os ouvidos a essa gente se, e somente se, for pego desprevenido. Caso contrário, dou um jeito de evitar aquela conversa monocórdia e demorada, no decorrer da qual terei raras chances de opinar.

A experiência me deixou tão escolado que passei a evitar pessoas com esse traço com a maior sem-cerimônia.

Quase sempre eu posso mudar de corredor no supermercado, trocar de lado se enxergo o falador na rua, ou simular uma oscilação do sinal de Internet e dizer que não estou ouvindo nada, antes de desligar o telefone. Também costumo ir ao banheiro, ainda que eu tenha acabado de sair de lá, livrando-me da eloquência impertinente de mais um desses que se destaca por ser muito bom de prosa.

Aparentemente, esse time tem crescido, pois os faladores compulsivos se fazem notar com uma frequência cada vez maior, deixando os ouvintes muito mais precavidos do que em qualquer época, sempre na defensiva, no sentido de prevenir situações em que apenas o compulsivo fala e o interlocutor se cala. Ninguém está livre de se deparar com um compulsivo falador pela frente, ávido por dois dedos de prosa, que no final das contas acaba se estendendo para muito mais além disso.

Tão grave quanto o grupo de faladores compulsivos é o rol de seres humanos que sempre têm razão, e costumam desautorizar qualquer opinião que não coincida com a sua. Mas esse é um tema que merece tratamento especial em um futuro próximo.

Hoje o meu foco é o compulsivo pela fala, seguido de uma sugestão: talvez fosse o caso de se criar grupos de ajuda mútua, nos moldes dos Comedores Compulsivos Anônimos – CCA, onde o falastrão se enxergaria e decidiria se submeter à mudança. Afinal, Deus nos deu dois ouvidos e uma boca, um sinal de que podemos e devemos falar menos e ouvir mais.

Luiz Cesar de Moraes é jornalista em Cuiabá.

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