É um fato que nas últimas décadas a maternidade em idade avançada tornou-se um fenómeno mais comum na sociedade. A maior preparação acadêmica das mulheres as levou a estabelecer novos objetivos profissionais, aumentar sua participação no mercado de trabalho e atrasar a vida a dois em muitos casos. Isso, junto com o uso de métodos anticoncepcionais na busca por uma estabilidade econômica antes de formar família, as diferentes formas de relacionamentos afetivos de hoje e os avanços da medicina que permitem a gravidez em alguns casos, mesmo que a mãe não seja jovem, são alguns dos fatores que influenciaram o atraso na idade da maternidade.
No entanto, a biologia das mulheres não tem mudado, sendo considerada sua fase mais fértil até os 35 anos, então a escolha de adiar a gravidez tem seus riscos. A fertilidade diminui à medida que as mulheres envelhecem, devido a alterações hormonais, à diminuição da reserva ovariana e à qualidade dos óvulos. Isso significa que pode levar mais tempo e tentativas para engravidar; e as taxas de sucesso de concepção diminuem após os 35 anos – e mais drasticamente após os 40 anos.
Uma gravidez após os 40 anos pode ocorrer de forma espontânea se a mulher ainda estiver produzindo óvulos maduros em seus ciclos menstruais. No entanto, as chances de sucesso são menores do que em mulheres mais jovens. Segundo o IBGE, o número de mulheres que optaram pela maternidade somente após os 40 anos cresceu 65,7% em 12 anos. Outra faixa etária que apresentou alta no período foi a de 30 a 39 anos, que aumentou para 19.7%.
Enquanto mulheres de até 25 anos têm 25% de chances de engravidar por ciclo, com 85% em até 12 meses de tentativas, essas possibilidades caem para 4% por ciclo ou 5% em até 12 meses quando falamos de mulheres com mais de 40 anos. Além disso, as possibilidades de uma gravidez após os 40 anos resultar em abortamento espontâneo ou ser finalizada com nascimento precoce são mais altas, com a taxa de casos podendo chegar a 15%.
Seja de forma natural ou por meio de tratamentos de reprodução assistida, a gravidez após os 40 anos exige cuidados e atenção aos riscos.
Isso ocorre porque o corpo, naturalmente, se torna mais vulnerável a doenças e outras alterações como as que ocorrem na gravidez. Por esse motivo, a Medicina classifica as gestações a partir dos 40 anos como de risco, tendo atenção a possíveis complicações como:
– Diabetes gestacional;
– Hipertensão;
– Distocia funcional;
– Parto prematuro;
– Aneuploidias (alterações cromossômicas);
– Abortos espontâneos.
Vale lembrar que, ainda que esses riscos sejam maiores em uma gravidez após os 40 anos, não quer dizer que mulheres mais jovens também não ocorram, ou que algum deles ocorrerá com certeza em mulheres mais velhas. Esse é um dos motivos para que o acompanhamento médico especializado seja feito desde o planejamento até o fim da gravidez.
Caso sejam detectadas, durante a gravidez, condições como diabetes gestacional ou hipertensão, é possível, com acompanhamento médico adequado, encontrar tratamentos e soluções para evitar que essas complicações se agravem ainda mais.
O grande desafio na gestação após os 40 anos quando se fala em gestação espontânea é o aumento do risco de síndromes cromossômicas, que tem, como uma das consequências, a chance de um aborto espontâneo no primeiro trimestre.
Os hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada e rica em nutrientes, a prática regular de exercícios físicos adequados para gestantes e o controle do peso fazem parte do preparo para planejar uma gestação após 40 anos. Evitar tabagismo e consumo de álcool e drogas é fundamental.
A saúde mental também é muito importante nessa nova fase. Preparando para as mudanças emocionais e psicológicas da gravidez e buscando apoio de familiares, amigos ou grupos de apoio para gestantes.
Em qualquer idade, a gravidez possui seus próprios desafios e recompensas únicas. Com cuidados adequados, apoio médico e um estilo de vida saudável, as mulheres podem desfrutar de uma experiência gratificante de gestação e parto.
As mulheres que desejam adiar a maternidade ou enfrentam dificuldades, a medicina reprodutiva oferece alternativas, como a fertilização in vitro (FIV) e o congelamento de óvulos, que podem elevar as chances de uma gravidez saudável em idades mais avançadas.
Fertilidade é um tema que merece ser tratado com informação e planejamento nos consultórios ginecológicos. Mulheres acima de 40 anos têm SIM opções, mas é essencial consultar um especialista para entender as alternativas mais adequadas para cada caso.
*Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).
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