Os museus são capazes de encantar pessoas de todas as idades. Nestes espaços, a arte, a história, a ciência se encontram com o turismo, com a educação e com o sentimento de pertencimento regional, apresentando fragmentos que contam sobre a evolução humana e do planeta. Porém, em algumas regiões do Brasil, essas importantes instituições nem se quer existem, ou possuem uma história recente, como é o caso do Museu de História Natural de Mato Grosso, instituição que tenho o prazer de acompanhar desde sua fundação.
O museu que guarda um dos principais acervos paleontológicos e arqueológicos do centro-oeste e do Brasil, surgiu graças aos esforços do Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Ecoss), que ao longo de sua história se empenhou em buscar parceiros para construir e consolidar um dos museus mais importantes do estado. Conheci o espaço da então Casa Dom Aquino, ainda enquanto estudante de ensino médio, ali tive o prazer de participar de uma escavação arqueológica. Me lembro até hoje da satisfação de encontrar alguns fragmentos de louça portuguesa, enterradas no quintal da residência colonial.
A criação do Museu aconteceu alguns anos depois, em 2006, e significou uma importante mudança para Cuiabá e para Mato Grosso. Desde então, anualmente milhares de estudantes, turistas e curiosos podem olhar de perto os fósseis de animais da megafauna como preguiça gigante e tatu gigante, além de olhar conchas fossilizadas e outros animais marinhos que contam a história do mar que recobriu a região de Cuiabá há aproximadamente 360 e 410 milhões de anos. Todo esse material é resultado de pesquisas científicas realizados pela equipe do instituto ECOSS e outros parceiros.
Além de um instrumento educacional importantíssimo, o Museu também tem contribuído para o desenvolvimento científico regional. Enquanto estagiário, acompanhei os esforços da Geóloga Suzana Hirooka, em busca de fósseis de dinossauros. O trabalho rendeu resultados e, em 2008, as primeiras descobertas da equipe foram realizadas no município de Chapada dos Guimarães. As pesquisas continuaram e hoje os materiais encontrados estão publicados em importantes revistas científicas do mundo.
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Os fósseis de dinossauros não são novidades em Mato Grosso, eles eram conhecidos desde o século XIX. Porém, o material descoberto em geral estava em outros estados, como é o caso dos fósseis do Pycnonemossauro nevesi, um gigantesco carnívoro de tchapa e cruz, que foi descrito por pesquisadores do Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, a partir de fósseis encontrados em Chapada dos Guimarães. Porém, os mato-grossenses só conseguiram poder observar a grandeza desse dinossauro que viveu em nossas terras, quando uma réplica foi construída no Museu de História Natural de Mato Grosso. Hoje a construção de mais uma réplica está em andamento, e será a segunda maior do Brasil, desta vez será de um sauropode, que são grandes dinossauros herbívoros que também viveram em nosso estado durante o Período Cretáceo.
Embora seja um museu estadual, o apoio do governo do estado nem sempre foi constante, algumas vezes o espaço ficou anos sem receber recursos, mesmo assim se manteve aberto. Desde sua criação, o museu em muitos momentos só sobreviveu graças aos esforços realizados pelas pessoas que acreditam na sua importância científica, educacional e cultural. Neste ano de 2021, este patrimônio da cultura mato-grossense completará 15 anos. Com certeza as próximas décadas do século XXI, reservam para Mato Grosso muitas outras descobertas fantásticas de novos animais, importantes achados arqueológicos e muitas outras surpresas relacionadas a história natural. Como pesquisador, quero continuar contribuindo para que isso aconteça, e ajudar algumas crianças e jovens a se encantarem pela ciência, da mesma forma que me encantei da primeira vez que vi os achados paleontológicos e arqueológicos. Mas para que isso ocorra, o museu e a ciência precisam ser cada vez mais apoiados e fomentados, ao fazer isso, o estado protege sua história e constrói um futuro sólido e rico em informação, cultura, educação e desenvolvimento sustentável.
Caiubi Kuhn
Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT).
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