"Era a Casa Branca ou a cadeia". O professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan acredita que esses eram os únicos destinos possíveis para Donald Trump em 2025. Com processos judiciais anulados e uma vitória expressiva nas urnas nas eleições americanas de novembro, ele garantiu a primeira opção.
Quatro anos depois, ele volta nesta segunda-feira (20) a ocupar o posto de presidente dos Estados Unidos com fôlego renovado, processos judiciais resolvidos e, desta vez, sem a tutela de figurões do Partido Republicano como a do primeiro mandato.
Trump, que venceu as eleições em novembro de 2024, toma posse nesta tarde em cerimônia em Washington para a qual convidou apenas aliados, entre eles o argentino Javier Milei (veja mais abaixo).
Também nesta segunda, o republicano já dará o pontapé inicial aos primeiros atos de seu governo: ele vai assinar, de uma só vez, dezenas de ordens executivas direcionadas a políticas anti-imigratórias —que podem afetar brasileiros em situação ilegal nos EUA— e tributárias favoráveis aos magnatas que agora integram seu governo.
A estratégia é a mesma de sua primeira gestão à frente da Casa Branca, quando ele anunciou decretos polêmicos já nos primeiros dias de governo, como a construção do muro na fronteira com o México e a suspensão de vistos para cidadãos de sete países muçulmanos.
Mas isso não quer dizer que a sua nova gestão será similar à anterior. Desta vez, na avaliação do professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisano republicano deve governar em "voo solo", já que se afastou da ala mais experiente de seu partido, de quem dependeu no primeiro mandato por conta da falta de experiência na política.
Ele também se sente mais legitimado pelos eleitores —diferentemente da sua primeira vitória, em 2016, ele venceu sua rival em 2024, a democrata Kamala Harris, tanto por número total de votos quanto na contagem do Colégio Eleitoral, órgão que elege o presidente do país.
"Vamos ver uma grande diferença entre o Trump 1 e Trump 2. O Trump do primeiro mandato conhecia pouco a dimensão exata do que ele podia fazer, então, se aproximou da ala mais experiente do Partido Republicano. Ou seja, havia sempre "um adulto na sala". Agora, Trump não os quer mais", disse Trevisan ao g1.
"E este será um governo de superconservadores e magnatas. Não há espaço para políticos experientes".
Posse
Já na cerimônia de posse, também chamada de Dia da Inauguração nos EUA, Trump dará demonstrações desse "voo solo". Quebrando um protocolo de não convidar governantes do exterior para o evento e sim diplomatas que os representem, o republicano, segundo a imprensa local, enviou uma série de convites diretos a aliados.
Entre eles, os presidentes Javier Milei, da Argentina, Giorgia Meloni, da Itália, e Viktor Orbán, da Hungria, além do brasileiro Jair Bolsonaro — apesar de o Supremo ter negado o pedido de Bolsonaro, que está com o passaporte apreendido, de ir à cerimônia nos EUA.
Trump também chamou políticos de partidos ultraconservadores europeus, como Tino Chrupalla, do Alternativa para a Alemanha (AfD), o espanhol Santiago Abascal, do VOX, e o ultraliberal britânico anti-União Europeia Nigel Farage, de acordo com o site de notícias dos EUA Politico.
Já a presidente da Comissão Europeia — o braço executivo da União Europeia —, Ursula von der Leyen, não recebeu convite, assim como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. O líder chinês, Xi Jinping, foi convidado por Trump, mas enviou seu vice.
O presidente Lula (PT) não foi convidado para a posse. A embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, vai representar o governo brasileiro no evento.
Nomes do Vale do Silício e magnatas da tecnologia, parte essencial da segunda gestão de Trump — ex-magnata que tem uma fortuna estimada em cerca de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) — também terão assentos garantidos na posse.
Segundo a imprensa norte-americana, Elon Musk, CEO da Tesla, do X e do SpaceX; Jeff Bezos, presidente-executivo da Amazon; e Mark Zuckerberg, CEO da Meta, estarão nas primeiras filas.
É justamente pensando nesse nicho que Trump deve assinar uma enxurrada de ordens executivas já durante a cerimônia de posse. As promessas de Trump de deportar imigrantes deverão encabeçar a lista das ordens executivas e, com isso, criar uma cortina de fumaça para medidas tributárias que favorecem o Vale do Silício, segundo o professor Leonardo Trevisan.
"Nós vamos assistir a uma enorme cortina de fumaça nos primeiros dias, exatamente pela complexidade que terão algumas medidas econômicas".
As ordens executivas são espécies de decreto, por não precisarem de aprovação prévia do Congresso, mas não criam uma lei específica. São como uma determinação do presidente sobre como órgãos do governo devem usar seus recursos.
Entre as que devem ser assinadas já nesta segunda estão também o texto em que Trump declara a imigração ilegal uma emergência nacional, o que na prática autoriza a liberação de fundos militares para a construção do muro na fronteira com o México, e a que permite agentes de imigração federal a prender pessoas sem antecedentes criminais.
Fontes ouvidas pela agência de notícias Reuters apontam que também haverá uma série de ordens executivas no setor de energia, de regulações sobre veículos elétricos e até mesmo a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima.
O resto da cerimônia vai seguir a tradição das posses nos EUA, começando com um serviço religioso seguido de um chá com seu antecessor, Joe Biden, que participará da cerimônia apesar de Trump não ter comparecido à posse do democrata em 2021 — na primeira vez em 150 anos em que um ex-presidente não foi à cerimônia de seu sucessor.
Trump discursará no Capitólio logo após um ato de posse, que será seguido da assinatura das ordens executivas, a revisão de tropas e um baile noturno.
A única quebra de tradição será a mudança do ato da posse para um local fechado, dentro do Capitólio, por conta do frio — há previsão de que a temperatura chegue a -6º C.
Fôlego extra
A partir da terça-feira e ao longo das primeiras semanas, a imprensa americana avalia que Trump deve continuar com a estratégia de choque inicial que adotou em sua primeira gestão, mas, desta vez, com fôlego renovado.
Há menos de um ano, Trump era réu em quatro processos judiciais e enfrentava o risco de prisão. Com sua vitória, os casos praticamente evaporaram, seguindo a compreensão jurídica de que a vontade individual — neste caso, expressa através das urnas — devem ser soberanas. Até por isso, a legislação norte-americana teria permitido que ele governasse atrás das grades, caso tivesse sido condenado à prisão.
"Isso interferiu na postura de Trump e lhe deu mais credibilidade para governar sem precisar de ninguém. Agora, o que vai importar para ele é lealdade e obediência", disse o professor Leonardo Trevisan.
Trajetória
Trump se muda de volta à Casa Branca novamente ao lado de Melania Trump, sua terceira esposa. O agora presidente dos EUA tem cinco filhos, dez netos, frutos de três casamentos diferentes.
Ao contrário do que já disse algumas vezes, Donald Trump não construiu sua fortuna do zero. Seus primeiros passos e milhões de dólares foram proporcionados por seu pai, Fred Trump, filho de um imigrante alemão que investiu no incipiente mercado imobiliário de Nova York na década de 1950.
Após se formar em economia na Universidade da Pensilvânia, em 1968, ele assumiu oficialmente a imobiliária da família, que começou a expandir por Nova York com construções de prédios altos em Manhattan e hotéis, campos de golfe e cassinos fora dos EUA, que sempre batiza com o nome da família.
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