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INTERNACIONAL Sexta-feira, 28 de Março de 2025, 08:59 - A | A

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no poder desde 2000

O que se sabe (e o que se especula) sobre a saúde de Vladimir Putin

Na quinta-feira, Volodymyr Zelensky disse que líder russo iria 'morrer em breve', mas detalhes sobre doenças são mantidos a sete chaves pelo Kremlin

O Globo e agências internacionais

Em meio a negociações ainda indiretas sobre o futuro da guerra em seu país, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tocou, durante uma entrevista em um tópicos mais sensíveis e sigilosos do maior responsável pela invasão iniciada há três anos: a saúde do presidente russo, Vladimir Putin, de 72 anos. O Kremlin raramente se pronuncia sobre questões médicas de seu líder, mas as especulações e teorias sobre o tema acompanham Putin desde sua chegada ao poder.

Na entrevista ao serviço de notícias do consórcio de emissoras públicas Eurovisão, Zelensky afirmava que o maior temor de Vladimir Vladimirovich “é a desestabilização da sociedade” russa, algo que, de acordo com o ucraniano, seria causado pelo próprio Putin. Foi quando citou a questão da idade e da própria mortalidade daquele que hoje é seu maior inimigo.

— Ele morrerá em breve, isso é um fato, e tudo estará acabado — afirmou.

Ex-agente da KGB e faixa-preta de judô, Putin tenta passar uma imagem de virilidade e saúde perfeita, dentro do discurso de defesa dos valores tradicionais russos, onde o homem é considerado “a parte forte” da família. A sua imagem montado em um cavalo sem camisa estampou calendários vendidos na Rússia e também memes na internet.

Isso não impediu que rumores circulassem livremente.

Meses depois de assumir o posto em 2000, substituindo um enfermo Boris Yeltsin, a imprensa russa começou a circular rumores de que o então jovem líder era alguém doente, e que mal poderia chegar à eleição daquele ano. Três anos depois, o jornal Kommersant afirmou que ele teria uma forma grave de eczema, citando o repetido uso de roupas mais largas do que as de costume.

As dúvidas chegaram à imprensa americana em 2005, quando a revista The Atlantic publicou uma longa reportagem questionando seu caminhar, em especial em sua primeira posse, considerado “irregular”: segundo os especialistas consultados pela revista, ele poderia ter sofrido um acidente vascular cerebral ainda no útero de sua mãe, ter sequelas do uso incorreto do fórceps no parto ou ter tido pólio na infância — nos anos 1950, quando Putin nasceu, houve uma epidemia da doença na União Soviética, quando chegaram a ser registrados até 22 mil novos casos por ano.

Em 2008, um estudo do Colégio de Guerra Naval dos EUA, ligado ao Pentágono, concluiu que Putin tem a síndrome de Asperger, "um transtorno autista que afeta todas as suas decisões". O documento afirma que o "desenvolvimento neurológico de Putin foi significativamente interrompido na infância", "que o presidente russo carrega uma anormalidade neurológica" e que "Putin tem alguma forma de autismo”.

Ao estudo se seguiram outras alegações envolvendo a saúde mental do líder russo, sobre um suposto uso de botox e questões que teriam, de acordo com a imprensa japonesa, levado ao cancelamento de uma viagem ao país em 2012. Semanas antes, o Kremlin revelou que Putin estava fazendo um tratamento para dores nas costas, ligadas ao judô e a exercícios de levantamento de peso.

Um tema recorrente são os supostos diagnósticos de câncer. Em 2014, meses depois de anexar a Crimeia e apoiar forças separatistas na Ucrânia, veículos de imprensa da Bielorrússia, Polônia e EUA afirmaram que ele havia sido diagnosticado com tumores na medula espinhal e no pâncreas, e estaria em “estado terminal”. O perdão dado um ano antes ao bilionário Mikhail Khodorkovsky seria, de acordo com relatos, uma forma de Putin “limpar sua consciência” antes de morrer.

 Em 2017, sua renúncia por motivos de saúde foi dada como certa pelo cientista político Valery Solovei, o mesmo que, três anos depois, garantiu que o líder russo havia sido submetido a uma cirurgia para a retirada de tumores malignos, que teria Doença de Parkinson e, finalmente, hanseníase.

— Nada disso faz sentido — disse, em 2021, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Durante a pandemia da Covid-19, Putin se fechou em sua residência de Novo-Ogaryovo, por vezes desaparecendo aos olhos públicos e contribuindo para especulações. Em novembro de 2020, uma crise de tosse durante uma reunião viralizou (mas foi suprimida pela imprensa oficial), e seu rosto inchado sugeria, segundo médicos, o uso de medicamentos como esteroides.

Havia de fato uma preocupação extrema com o coronavírus, e vários chefes de Estado e ministros foram obrigados a se submeter a exames antes de reuniões bilaterais. Caso contrário, precisariam se sentar do outro lado de uma longa mesa no Kremlin.

O início da guerra na Ucrânia, em 2022, deu nova força aos rumores, que incluíram "revelações" feitas pelo então chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, de que Putin estaria com várias doenças, “incluindo câncer”. O site investigativo russo Proekt afirmou, citando documentos de viagem oficiais, que Putin recebeu visitas regulares de um oncologista e dois otorrinolaringologistas, sugerindo uma doença na tireoide.

A revista Newseeek, citando fontes da inteligência dos EUA, disse que ele passou por um tratamento para um câncer "em estado avançado" em 2022, mesmo ano em que o tablóide britânico Sunday Mirror, citando uma fonte do serviço secreto russo, disse que Putin tinha "dois ou três anos de vida" e convivia com dores de cabeça intensas e um controle cada vez menor de suas funções motoras.

Outros tablóides declararam que Putin havia morrido, também em 2022, e fora substituído por um dublê de corpo, outra teoria da conspiração popular. O próprio Zelensky questionou, em 2023, se o líder russo estava mesmo vivo, e canais do Telegram, amparados por declarações de Solovei, garantiram que Putin morreu no dia 23 de outubro daquele ano, e estava sendo interpretado por um sósia.

De concreto, pouco existe. Agências de inteligência ocidentais afirmam que ele “está saudável até demais”, e os supostos documentos comprovando as doenças raramente são apresentados. O Kremlin também rejeita as acusações, ao mesmo tempo em que diz que a lei "não prevê nenhuma divulgação obrigatória de dados sobre a saúde do presidente”.

Como apontou um artigo da revista The Statesman, a onda sem fim de rumores, além de um certo elemento de propaganda, tem suas raízes na Kremlinologia soviética. Diante da ausência de informações oficiais sobre o governo, muitas vezes se recorria a fontes na comunidade de inteligência ou na observação de aparições públicas dos líderes — algo similar ao que acontece com a Coreia do Norte, quando muitos apontaram que Kim Jong-un havia morrido após um período longe dos olhos públicos, em 2020, o que não se confirmou.

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