Alerta: se você for uma pessoa nojinho, digo que sente nojinho com alguma facilidade, favor não continuar o texto. Ficou? Pois pronto. Antes só uma coisa. Vê, eu não sou exatamente uma pessoa nojinho, mas ontem, enquanto a Lola comprava pipoca, fui no banheiro do cinema. Tinha fila, porque das 7 cabines disponíveis, 4 estavam interditadas. Já me deu aquela agonia de “interditada por que?”. Onze mulheres saíram das portinhas antes que chegasse a minha vez de entrar. Das 11,
somente 3 lavaram a mão. Gente! Enfim. O filme era Queer e eu gostei bem, acho que vale a pena assistir desde que você não encoste em ninguém dentro da sala porque AS PESSOAS NÃO LAVAM A MÃO DEPOIS DO BANHEIRO - SOCORRO DEUS!
Agora a história - e tem a ver com ano novo, juro. Vocês conhecem meu amor pelo Mambo da Angélica, certo? Uma das razões é que eles vendem bandejinhas de sushi. Preço ótimo, feito no dia, delícia e tal. Uma delícia na categoria sushi de supermercado. Não precisa se empolgar também. Eu almoço sushi do Mambo pelo menos umas 3 vezes por semana. Sei que parece uma informação inútil, mas é que sushis são responsáveis pelo meu retorno ao mundo do mar. Passei anos sem comer nada de peixe. Eu gosto do sabor, não é isso, mas é que tinha uma lembrança meio borrada na cabeça de que tudo que mora na água - na minha boca, na minha garganta, no meu estômago - representa perigo, dos grandes, de morte. Sushi não.
Parece amigo, transparentezinho, brilhoso, “vou te fazer bem, pode vir”. Via sushi do Mambo, esse ano até peixe frito eu comi, mais de uma vez. Me sinto tão vencedora.
Me sentia, na verdade. É que sexta-feira, ao morder a segunda peça de minha bandejinha. Uma daquelas enroladas com arroz por fora e peixe por dentro, senti um objeto estranho na boca. Mordi mais umas mordidas pra identificar uma espinha de no mínimo 2 dedos de comprimento e voltei para o pavor de um osso (porque espinha é osso) de agulha frita que me enganchou na garganta.
Desbloqueou a memória, sabe? Eu devia ter menos de 5 anos, pelo tamanho da mãozinha apertando a cadeira de praia que vi com nitidez assustadora na minha cabeça. Aqui uma segunda informação: eu não sei cuspir, nem vomitar, já contei, né? De maneira que fiquei ali, lágrima caindo, cara vermelha, numa agonia infantil, ao som do “cospe”, “cospe logo!” das minhas filhas, tadinhas - que cena. Durou menos de um minuto e quase morri. Tudo isso pra dizer que consegui cuspir, minha gente. Me sinto tão vencedora. E é esse mesmo o recado. Em 2024 eu aprendi a cuspir. Foi nos 45 do segundo tempo? Foi. Tem nada não, o importante é não engasgar. Venho te fazer esse convite pro ano novo. Deixa engasgar não, cospe, cospe logo! Feliz ano novo, queridos.
E obrigada pela leitura esse tempo todo, mesmo, mesmo. Adoro vocês.
Roberta D'Albuquerque é psicanalista, atende em seu consultório em São Paulo e escreve semanalmente em 18 jornais e revistas do Brasil, EUA e Canadá. E-mail: [email protected]
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