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02 de Janeiro de 2025

OPINIÃO Segunda-feira, 28 de Novembro de 2022, 08:31 - A | A

Segunda-feira, 28 de Novembro de 2022, 08h:31 - A | A

NEILA BARRETO

O Porto e o rio

Era uma vida dura, mas feliz, testemunham os mais antigos

Neila Barreto 

No Porto Geral da antiga Cuiabá-MT antes era um movimento que só vendo. Portugueses e bandeirantes paulistas, além dos índios, encontraram ali ricos mananciais de ouro e um rio chamado Cuiabá, limpo, piscoso e valente.

Naquela época a população da cidade dispunha de dois Portos para receberem os seus viajantes: o Porto Geral de Cuiabá, mais próximo da povoação e o chamado Porto do Borralho que, servia à época, que servia à população que vinham do rio acima, (Região de Rosário Oeste).

Nesse vaivém de canoas e outras embarcações o comércio borbulhava na região e seus arredores. Era uma vida dura, mas feliz, testemunham os mais antigos. Era horta para todo o lado. Plantio de arroz, feijão, milho, cana-de-açúcar, fumo, secos e molhados. Peixe de toda espécie com fartura tais como, piraputanga, pintados, pacus, dourados, jaús, curimbatás, lambaris, entre outros.

Nesse comércio próspero havia duas irmãs: Dona Relinda de Souza Bittencourt e Dona Alexandrina Berlarmina de Souza que, segundo Dunga Rodrigues, tinham o seu comércio localizado no Beco da Polícia, inicia na Praça da Bandeira, na esquina do Quartel da Polícia Militar-Laboratório Pirotécnico, antiga Praça São Gonçalo, onde fica a igreja São Gonçalo, no Porto.

Ambas de origem lusitana. Vieram para Cuiabá por ocasião da Guerra do Paraguai, da cidade de Corumbá onde moravam com os seus pais. No entanto, os pais preferiram enviá-las para morar em Cuiabá, em função da guerra. Os pais foram enviados a Assumpção e lá foram fuzilados deixando as filhas em Cuiabá, órfãs.

Relinda e Alexandrina se tornaram empreendedoras. Fizeram do limão uma limonada. Abriram um comércio e comercializavam de tudo, uma espécie de empório onde se vendia fiado, com anotações em cadernetas. Além disso, as duas possuíam mãos de fada, porque os bolos caseiros fabricados por elas, eram imperdíveis, principalmente uma broinha de canela que ficou gravado na memória da professora Dunga.

Bravas mulheres, empreendedoras, se tornaram um porto seguro para os moradores da região do Porto, em Cuiabá. Relinda e Alexandrina fundaram a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, da igreja São Gonçalo, hoje conhecida como, São Gonçalo, do Porto.

Ambas eram verdadeiras zeladoras da igreja, da irmandade, dos paroquianos, da comunidade em geral. Poderíamos dizer as assistentes sociais da época. Abrigavam em seus lares crianças órfãs, experiência esta vivenciada por elas, após a morte dos pais, educando e cuidando dos mesmos.

As irmãs produziam uma festa de São João, no bairro do Porto que era uma beleza. Tinha fogueira, chá com bolo e lavação de santo, na beira do Rio Cuiabá. Era uma festa voltada para as crianças, feita e organizada de maneira especial.

Dona Relinda e dona Alexandrina se encontram repousando no mausoléu no cemitério do bairro do Porto, na capital, cujo local foi construído pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Paróquia de São Gonçalo.

Neila Barreto é jornalista, mestre em História e membro da AML.

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