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BRASIL Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2018, 13:55 - A | A

Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2018, 13h:55 - A | A

NEGÓCIO BILIONÁRIO

Justiça Federal de SP suspende pela 2ª vez acordo entre Boeing e Embraer

G1

 

O juiz Victorio Giuzio Neto, da 24ª Vara Cível Federal de São Paulo, concedeu uma nova liminar (decisão provisória) para suspender o acordo entre as empresas Boeing e Embraer. A nova ação foi apresentada por sindicatos de trabalhadores em regiões onde a Embraer mantém fábricas no país.

 

A decisão é desta quarta-feira (19) e foi tomada pelo mesmo juiz que já havia concedido uma outra liminar para suspender a negociação no início do mês ao analisar a ação movida por dois deputados federais. A primeira liminar foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região de São Paulo no última dia 10.

 

Nesta segunda-feira (17), a Embraer informou que aprovou junto à fabricante norte-americana de aeronaves Boeing os termos do acordo, que prevê a criação de uma nova empresa (joint venture) de aviação comercial no Brasil.

 

O novo negócio é avaliado em US$ 5,26 bilhões. Inicialmente, quando as duas empresas assinaram um memorando, o valor era estimado em US$ 4,75 bilhões. Nos termos do acordo, a fabricante norte-americana de aeronaves deterá 80% do novo negócio e a Embraer, os 20% restantes.

 

Nesta quarta-feira, Giuzio Neto suspendeu novamente a fusão ao analisar uma ação apresentada pelos sindicatos de trabalhadores em regiões onde a Embraer mantém fábricas no país, como São José dos Campos e Botucatu.

 

O juiz federal suspendeu qualquer ato concreto de decisão da Embraer que concorde com transferência da parte comercial da empresa a outra empresa.

 

"Nesta decisão, como na anterior, não visualiza o juízo qualquer ameaça ou comprometimento da economia do país ou situação provocadora de crise na medida que busca conservar uma situação que se encontra consolidada no tempo e eventual oscilação em preços de ações da Boeing ou da Embraer são considerados efeitos metajurídicos normais de qualquer decisão judicial sem a tônica de representar repercussão nos interesses do paí", afirmou o juiz.

 

Procurada pelo G1, a Embraer informou que "tomará todas as medidas judiciais cabíveis para reverter a referida decisão". Informou ainda que manterá seus acionistas e o mercado informados sobre os desdobramentos da ação.

 

A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que vai recorrer contra liminar da 24ª Vara Cível Federal de São Paulo que determinou a suspensão das negociações entre as empresas. A Boeing informou que não vai comentar a decisão.

 

Ação civil

 

O advogado que representa os sindicalistas, Aristeu Pinto Neto, sinalizou que a ação movida pelas entidades trabalhistas tem como objetivo defender os interesses da sociedade, não apenas os corporativos e dos trabalhadores da própria Embraer.

 

"A empresa gera empregos e divisas no país e isso recai sobre interesses nacionais. Fundamentei a ação não apenas contra o ataque aos interesses trabalhistas, mas principalmente no que tange ao negócio jurídico desatender as regras de sociedades anônimas. Não é uma 'joint venture', que é uma comunhão de empresas para desenvolver um projeto especifico. O que se tem é a aquisição da Embraer pela Boeing ou, nos termos das leis da S.As [sociedades anônimas] é uma incorporação, quando vc dissolve uma empresa em outra maior", avaliou.

 

Ele ainda destacou o que considera a 'assimetria do negócio' e traçou, em entrevista coletiva na sede do sindicato em São José, um paralelo com a negociação entre a Airbus e a Bombardier.

 

"Com toda dificuldade que a Bombardier vem enfrentando, ali existiu parceria de 51% a 49%, então há um equilíbrio completo de uma parceria que está ocorrendo ali. Aqui não, daqui a 10 anos a Boeing pode ainda comprar esses 20%, restantes da Embraer", disse Neto.

 

O diretor do sindicato, Herbert Claros, reforçou a preocupação que as entidades sindicais têm, sobretudo com o setor de defesa.

 

"Fabricamos o KC-390 [cargueiro militar], projeto feito com dinheiro público do governo brasileiro, não podemos fechar os olhos à entrega deste patrimônio aos americanos. Mesmo sendo a Embraer hoje privatizada, ainda recebe dinheiro público, do governo, do BNDES. O KC foi uma encomenda do governo brasileiro, sem o Brasil não existiria o projeto, então lesa a pátria 49% desse projeto ir para os Estados Unidos", concluiu.

 

Acordo

 

A Boeing será controladora da empresa, com 80% de participação, ao fazer um pagamento de US$ 4,2 bilhões (o equivalente a R$ 16,4 bilhões), cerca de 10% maior que o inicialmente previsto. Este valor também supera em mais de 7% o valor de mercado da Embraer no fechamento do pregão da última sexta-feira (R$ 15,2 bilhões). O maior valor de mercado já registrado pela Embraer foi em novembro de 2015, quando a companhia atingiu R$ 22,39 bilhões, segundo dados da Economatica.

 

Os 20% restantes serão da fabricante brasileira, que poderá vender sua parte para a norte-americana a qualquer momento, por meio de uma opção de venda.

 

O acordo ainda precisa ser aprovado pelo governo brasileiro, que é dono de uma "golden share" na companhia e tem poder de veto em decisões estratégicas, como a transferência de controle acionário da empresa.

 

Caso o governo aprove o negócio, o acordo ainda será submetido à aprovação dos acionistas, das autoridades regulatórias, "bem como a outras condições pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo", informou a Embraer.

 

Negócio da área de defesa

As empresas também chegaram a um acordo sobre os termos de uma segunda joint venture para promover e desenvolver novos mercados na área de defesa, envolvendo o avião multimissão KC-390.

 

De acordo com a parceria, a Embraer será a controladora neste negócio, com 51% de participação, e a Boeing, os 49% restantes. O valor total do negócio não foi informado.

 

Caso a parceria seja aprovada no tempo previsto, a Embraer espera que a negociação seja concluída até o final de 2019.

 

Por que Boeing e Embraer estão unindo forças

A Boeing e a Embraer anunciaram no fim de 2016 que estudavam unir seus negócios. A expectativa era de que um acordo entre as duas poderia criar uma gigante global de aviação, com forte atuação nos segmentos de longa distância e na aviação regional, e capaz de fazer frente a uma união similar entre as maiores concorrentes, Airbus e Bombardier, que também se uniram.

 

A americana e a brasileira tentam consolidar em um mesmo negócio duas operações fortes, uma em aviação de longa distância, outra para deslocamentos regionais. Enquanto a Boeing é a principal fabricante de aeronaves comerciais para voos longos, a Embraer lidera o mercado de jatos regionais, com aeronaves equipadas para voar distâncias menores.

 

A Embraer foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões (valores da época), quando o governo obteve o poder de decisão sobre a companhia.

 

A Embraer está avaliada atualmente na bolsa em cerca de US$ 3,9 bilhões, e a Boeing, em US$ 181 bilhões, segundo dados da Economatica.

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