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ESPORTE Sexta-feira, 02 de Fevereiro de 2024, 08:17 - A | A

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fracasso

Pia sobre Brasil na Copa Feminina: 'Não conseguimos lidar com a pressão'

Eliminação diante da Jamaica completa seis meses nesta sexta; treinadora sueca rebate críticas de Marta sobre escalação: "Ela me disse: 'Pode me colocar onde quiser'"

Globo Esporte

 Vencer a Jamaica nunca foi um desafio para a seleção brasileira feminina. Pelo contrário: os dois primeiros confrontos terminaram com vitórias fáceis de 5 a 0, no Pan de 2007, e 3 a 0, na Copa do Mundo de 2019. Até chegar ao decisivo jogo pela terceira rodada do Grupo F do Mundial do ano passado.

Aquele empate sem gols, que eliminou o Brasil na fase de grupos, completa seis meses nesta sexta-feira. Para a então técnica da seleção brasileira, Pia Sundhage, não é fácil explicar por que uma equipe que chegou confiante ao Mundial, com uma preparação inédita, acabou dando adeus de forma tão frustrante. Em conversa com o ge sobre a decepcionante Copa do Mundo do Brasil, a agora treinadora da Suíça avalia que a obrigação de vencer a Jamaica travou a seleção naquela noite de 2 de agosto em Melbourne.

 - Não conseguimos lidar com a pressão. É diferente quando o 0 a 0 nos leva para a prorrogação ou para os pênaltis, mas o fato é que não fomos capazes de marcar. A pressão de precisar fazer um gol, não importa quem era o adversário, isso nos fez não ter precisão (nas conclusões) e não ser tão boas como fomos antes - afirmou Pia, relembrando a boa preparação brasileira para o Mundial.

- Nós tínhamos jogado bem o segundo tempo contra a Inglaterra poucos meses antes, vencemos a Alemanha, todas estavam felizes após o primeiro jogo da Copa (4 a 0 sobre o Panamá) e tivemos um erro contra a França (derrota por 2 a 1). Mas isso é futebol internacional. Eu tenho certeza de que esse time poderia ter tido sucesso, porque é realmente um bom time - afirmou a nova treinadora da Suíça.

Se uma lição pode ser tirada da experiência na Austrália, a treinadora sueca acredita que é a mais elementar de todas no esporte:

- Nada é garantido. Todos esperavam que nós ganhássemos da Jamaica, mas é um erro pensar assim. Basta olhar para o Canadá e a Alemanha, houve muitas decepções - lembra ela, citando duas outras seleções tradicionais que caíram na fase de grupos.

Após golear o Panamá por 4 a 0 na estreia, com exibição de gala de Ary Borges, autora de três gols e uma assistência, o Brasil chegou ao confronto mais aguardado: a França. Uma partida tão importante que até moldou a preparação brasileira: a comissão técnica escolheu como base de treinos Brisbane, local do jogo, evitando perder um dia de treinamento com deslocamento.

Uma atuação insegura, especialmente no primeiro tempo, e um gol da zagueira Wendie Renard nos minutos finais, em erro infantil de posicionamento da defesa em um escanteio, custaram a derrota por 2 a 1 na segunda rodada. Apesar da frustração, o Brasil ainda dependia apenas de si para se classificar. Bastava vencer a Jamaica.

Pia defende mudanças tardias: "Fácil dizer que cometi um erro"

Criticada por ter demorado muito a mexer no time, tanto contra a França como diante das jamaicanas, Pia defende sua estratégia e diz que após um resultado adverso, a tendência é sempre buscar explicações.

- É sempre fácil dizer após os 90 minutos que eu cometi um erro, mas se olharmos para outros jogos, eu sei que podia acreditar naquelas jogadoras em campo. Contra a Austrália (em 2021), estava 2 a 0 para elas, entraram jogadoras no fim e empatamos. Aconteceu o mesmo contra a Inglaterra (na Finalíssima, em 2023) - relembrou a ex-técnica do Brasil.

Pia lamenta que a seleção brasileira ainda não seja capaz de aproveitar todo o seu potencial ofensivo.

"Nós tivemos uma preparação tão boa, tudo foi muito bem feito. Se eu pudesse fazer algo diferente, eu acho que teria passado mais tempo treinando finalizações a gol. Nós criamos chances, mas não soubemos aproveitar.
— Pia Sundhage, ex-treinadora da seleção brasileira feminina

Jogar contra as melhores é a chave, diz Pia

As duas eliminações do Brasil sob o comando de Pia Sundhage em grandes competições foram em empates em 0 a 0. Em 2021, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a seleção caiu nas quartas de final, derrotada nos pênaltis para o Canadá. Após o torneio, a comissão técnica passou a contar com apoio psicológico para as jogadoras, mas na opinião da treinadora o caminho para aprender a lidar com a pressão das grandes competições passa também pelo campo.

- Leva tempo, e você precisa ter um pouco de sorte. Em vez de falar sobre pressão, o melhor é jogar contras as melhores equipes, e encontrar jogadoras que saibam lidar com a pressão. Essa é a chave, competir e jogar o máximo que puder no mais alto nível.

Após a eliminação, Pia deixou a Austrália e foi descansar algumas semanas na Suécia. Apesar das especulações sobre sua possível demissão, voltou ao Brasil no fim de agosto disposta a seguir na seleção até o fim do seu contrato, nos Jogos Olímpicos de Paris.

"Quando saí da Austrália, estava determinada a continuar, porque nós temos um grande time, apenas não tivemos sorte.
— Pia Sundhage, sobre sua intenção de seguir na seleção brasileira após a Copa

Sem querer entrar em detalhes da reunião com o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, a treinadora apenas lamentou sua saída.

- O presidente Ednaldo esteve na Austrália para os dois primeiros jogos e estava muito feliz com o nosso trabalho. Eu tive mensagens positivas do presidente. Mas quando voltei para o Brasil, ele já estava diferente, é por isso que eu fiquei surpresa com a demissão. Mas é assim que é.

Pia queria despedida melhor para Formiga: "Sinto muito"

Pia Sundhage passou quase cinco meses sem trabalhar, até ser anunciada dia 15 de janeiro como nova técnica da Suíça. O Brasil, agora sob o comando de Arthur Elias, já fez cinco amistosos preparatórios para as Olimpíadas de Paris, contra Canadá (dois), Japão (dois) e Nicarágua.

Após a mudança do comando, a camisa 10 Marta, que foi titular apenas contra a Jamaica na Copa, afirmou ao Esporte Espetacular que tinha ficado frustrada por ter jogado pouco tempo e fora da posição ideal no Mundial. Pia não quis se estender sobre o assunto.

 "Não tenho comentários sobre isso, o que eu posso dizer é o que ela me disse antes da Copa: "Pode me colocar onde quiser, eu jogo em qualquer posição pelo Brasil, na esquerda, no ataque, onde for". Se ela não se sentiu feliz, eu apenas sinto muito.
— Pia Sundhage, ex-treinadora da seleção brasileira feminina

Dos quatro anos que passou no Brasil, Pia lamenta os problemas estruturais, como limitação para viagens de observação de jogadoras na Europa, e tem uma mágoa: o jogo de despedida da volante Formiga, em novembro de 2021, numa goleada por 6 a 1 sobre a Índia, na Arena da Amazônia, em Manaus, com a homenageada entrando apenas aos 33 do segundo tempo, devido a um problema muscular.

- Se você olhar para o que ela fez pela seleção, acho que poderiam ter feito um trabalho melhor no seu jogo de despedida. Eu sinto muito por isso.

Elogios a Kerolin, Ary Borges e Debinha

 Sobre o futuro da seleção brasileira, Pia mantém a confiança na nova geração do Brasil, destacando duas jogadoras:

- Kerolin não teve sorte agora, acabou de sofrer ruptura de LCA, é a jogadora que mais tem chance de se tornar uma estrela internacional. E também tem a Ary Borges. Essas duas têm um grande potencial. Mas acho que as outras, juntas, representando o Brasil, se continuarem assim, elas serão grandes jogadoras.

Perguntada sobre a lembrança que leva do período vivido no Brasil, Pia não escolheu nenhuma das palavras ou músicas que aprendeu com as jogadoras. Prefere guardar na memória aquilo que a uniu ao país: o futebol.

- Tenho tantas lembranças. Mas para mim é uma situação de jogo: Kerolin tocando para Debinha fazer um gol, não me lembro contra quem. O jeito como Debinha corria, passando pelas jogadoras. Foi uma jogada típica do futebol brasileiro, com toda a sua técnica e velocidade. Isso é raro.

 

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