Há exatos 525 anos, teve início um dos maiores genocídios da história da humanidade: o praticado pelos portugueses — meus antepassados — contra os povos indígenas que viviam há milhares de anos nas terras que viriam a ser chamadas de Brasil. Era 22 de abril de 1500 quando os invasores assassinos ancoraram suas caravelas nas praias da Bahia.
A partir dessa data, toda sorte de crimes foi cometida pelos _napë_ — como os Yanomami chamam os forasteiros e inimigos. Estima-se que, à época da invasão portuguesa, viviam por aqui cerca de 3 milhões de indígenas. Hoje, são menos de 900 mil. Ou seja, mais de 70% dos povos originários do atual território brasileiro foram dizimados. Vítimas das “fumaças de epidemia e de suas espingardas”, como sintetiza *Davi Kopenawa* na obra _A queda do céu: palavras de um xamã yanomami_.
E os crimes continuaram. Milhões de homens e mulheres negras foram sequestrados de seus reinos na África e escravizados aqui para financiar os ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do café, do ouro — riquezas apropriadas por famílias das elites portuguesas e de algumas já brasileiras. Fortunas erguidas sobre corpos humanos coisificados e vendidos em mercados públicos junto a portos espalhados pela costa. Muitos mortos pelo trabalho exaustivo. Outros, pelos castigos recorrentes. Tantos mais, assassinados no exercício de seu direito natural à liberdade.
Não há, enfim, nada a comemorar neste 22 de abril. Uma data que as escolas deveriam ressignificar. Não mais tratá-la como o dia em que Pedro Álvares Cabral e sua frota, ao atravessarem o Atlântico rumo às Índias, “descobriram” o Brasil. Mas sim como o dia em que o território hoje chamado Brasil foi invadido por homens brancos europeus que cometeram os mais bárbaros crimes.
Essa é uma realidade histórica que justifica toda e qualquer política afirmativa. O genocídio brasileiro inaugurado em 22 de abril de 1500 constitui uma dívida impagável para com indígenas e negros. Nada do que se faça hoje reparará o que significou, para essas populações, a violência dos invasores. Tampouco devolverá os lucros apropriados por uma elite branca à custa da exploração de suas terras e de sua força de trabalho.
Contudo, tudo o que for feito — como políticas de cotas, reconhecimento de áreas quilombolas ou demarcação de terras indígenas — contribui para reduzir essa dívida e, sobretudo, para lançar luz sobre os crimes que foram cometidos. Que a história não seja apagada.
(*) OLIVEIROS MARQUES é sociólogo, publicitário e comunicador político.
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