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Conflito no Oriente Médio

Autoridade do Hamas diz que não teria apoiado ataque se soubesse das consequências

Mousa Abu Marzouk, chefe do de relações exteriores do Hamas, disse que não foi informado sobre os planos específicos para aquele dia

The New York Times

Durante meses, os líderes do Hamas defenderam a decisão do grupo terrorista de lançar o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel, embora isso tenha desencadeado uma ofensiva israelense devastadora que matou dezenas de milhares de palestinos em Gaza e reduziu o território a escombros. Declararam "vitória" sobre Israel, e alguns de seus oficiais prometeram realizar mais ataques como aquele no futuro. Mas agora uma das principais autoridades do Hamas expressou publicamente reservas sobre o ataque, que também desencadeou uma crise humanitária no enclave, deslocando quase 2 milhões de pessoas e levando a uma escassez crítica de alimentos e assistência médica.

Mousa Abu Marzouk, chefe do escritório de relações exteriores do Hamas baseado no Catar, disse em uma entrevista ao The New York Times que não teria apoiado o ataque se soubesse da devastação que causaria em Gaza.

Marzouk disse que não foi informado sobre os planos específicos para o 7 de outubro, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 250 feitas reféns, mas que ele e outros líderes políticos do Hamas endossaram sua estratégia geral de atacar Israel militarmente.

— Se fosse esperado que o que aconteceu acontecesse, não teria havido o dia 7 de outubro — disse ele.

Ele também sugeriu que havia alguma disposição dentro do Hamas para negociar o futuro das armas do grupo em Gaza — o que tem sido um ponto de discórdia nas negociações com Israel —, tomando uma posição que outros oficiais do Hamas rejeitaram. Um acordo pode ajudar o Hamas e Israel a evitar uma renovação da guerra, dizem analistas. Mas Israel quer que o Hamas desmantele suas capacidades militares.

Marzouk, 74 anos, o primeiro líder do Gabinete político do Hamas na década de 1990, fez os comentários em uma entrevista por telefone na sexta-feira.

Não está claro até que ponto suas opiniões são compartilhadas por outros líderes do Hamas, ou se foram uma tentativa de influenciar as negociações com Israel ou pressionar outros líderes dentro do grupo. Outros líderes do Hamas, especialmente aqueles intimamente ligados ao Irã e ao grupo xiita libanês Hezbollah, tendem a adotar uma linha mais dura.

Mas seus comentários sugerem que há diferenças entre os dirigentes do Hamas quanto ao ataque de 7 de outubro e suas consequências. Também indicam que as frustrações dos palestinos em Gaza, que afirmam que o ataque os fez suportar um sofrimento extraordinário, estão tendo algum impacto dentro da liderança do Hamas.

As declarações de Marzouk foram semelhantes às feitas por Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, após a guerra de 2006 entre Israel e o grupo xiita. A escala da destruição naquele conflito levou Nasrallah a admitir que seu grupo não teria sequestrado e matado vários soldados israelenses se soubesse que isso desencadearia uma resposta tão forte.

 Nos próximos dias, espera-se que Israel e Hamas comecem a discutir a segunda fase do cessar-fogo em Gaza, que prevê um fim permanente dos combates, a retirada total de Israel e a libertação de mais reféns israelenses e prisioneiros palestinos. Mas os atrasos no início dessas negociações, somados às disputas sobre a implementação da primeira fase, reforçaram temores de que a trégua possa ruir e a guerra recomeçar.

Marzouk, que passou anos vivendo nos Estados Unidos, há muito é visto como uma das figuras mais pragmáticas do Hamas. A guerra teve um custo alto para sua família, com a morte de seu irmão de 77 anos, Yousef, durante os combates.

— Ele não é um niilista — disse Stanley Cohen, advogado e amigo de longa data de Marzouk, baseado em Nova York. — Ele não apoiaria nenhuma ação que acreditasse que traria uma retaliação sem precedentes e indiscriminada contra seu povo.

Marzouk afirmou que a sobrevivência do Hamas na guerra contra Israel já era, em si, "um tipo de vitória". Ele também comparou o Hamas a uma pessoa comum lutando contra Mike Tyson, o ex-campeão de boxe peso-pesado: se o novato inexperiente sobrevivesse aos golpes de Tyson, as pessoas diriam que ele venceu.

 Em termos absolutos, ele disse que seria "inaceitável" afirmar que o Hamas venceu, especialmente considerando a escala do que Israel infligiu a Gaza.

— Estamos falando de uma parte que perdeu o controle de si mesma e se vingou de tudo — disse ele, referindo-se a Israel. — Isso não é uma vitória sob nenhuma circunstância.

O Exército israelense afirmou que suas campanhas aéreas e terrestres em Gaza foram conduzidas de acordo com o direito internacional e que os ataques tinham como alvo o Hamas, que os Estados Unidos e outros países designam como grupo terrorista. No entanto, especialistas jurídicos acusam Israel de usar força de maneira que resultou na morte de um número excessivo de civis.

Marzouk também sugeriu que há certa abertura dentro da liderança do Hamas para negociar o futuro do arsenal do grupo em Gaza, uma questão delicada que outros dirigentes do Hamas disseram ser inegociável.

— Estamos prontos para falar sobre qualquer questão — disse ele, ao ser questionado sobre as armas. — Qualquer questão que for colocada à mesa, precisamos discuti-la.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu que seu país não encerrará a guerra contra o Hamas sem desmantelar suas capacidades militares e governamentais. Embora o Hamas tenha expressado disposição para abrir mão do governo civil em Gaza, se recusou a entregar suas armas.

As declarações de Marzouk pareceram contradizer as de Osama Hamdan, outro dirigente do Hamas, que afirmou em uma conferência em Doha, no Catar, no meio do mês, que "as armas da resistência" não estavam em discussão, aparentemente descartando um compromisso.

Quando questionado sobre as declarações de Hamdan, Marzouk disse que nenhum líder poderia definir a agenda sozinho.

Ibrahim Madhoun, analista próximo ao Hamas, afirmou que há várias visões dentro do grupo sobre questões importantes, mas que, uma vez que suas instituições tomam uma decisão, todos a apoiam.

Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 19 de janeiro, combatentes do Hamas têm desfilado por Gaza com rifles — enviando uma mensagem a Israel, à comunidade internacional e aos palestinos de que o grupo ainda está no controle.

Marzouk recusou-se a responder perguntas específicas sobre possíveis concessões na questão das armas do Hamas. Essas concessões poderiam incluir armazenar armas em instalações supervisionadas internacionalmente, concordar em não reconstruir sua rede de túneis e arsenal de foguetes ou interromper o recrutamento de combatentes. Especialistas afirmam que o desarmamento é improvável.

Como as negociações sobre a segunda fase do cessar-fogo têm sido adiadas, autoridades israelenses e americanas têm falado cada vez mais sobre a possibilidade de estender a primeira fase. Marzouk afirmou que a libertação de mais reféns e prisioneiros durante essa extensão poderia ser discutida. No entanto, esclareceu que, sob qualquer circunstância, o Hamas exigiria um número muito maior de prisioneiros para cada refém, pois considera que os reféns israelenses restantes são soldados. Ele mencionou entre 500 e 1.000 prisioneiros como possíveis números para cada refém.

Na primeira fase, centenas de prisioneiros palestinos foram libertados, mas o número de prisioneiros soltos por refém geralmente não passou de 50.

Marzouk afirmou que o Hamas também estaria disposto a libertar todos os reféns de uma só vez, se Israel aceitasse libertar os milhares de palestinos em suas prisões, encerrar a guerra e se retirar de Gaza.

— Estamos prontos para um acordo abrangente — disse ele.

As autoridades israelenses já rejeitaram propostas para trocar todos os reféns por todos os prisioneiros.

 

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